03 novembro 2012

Um novo holocausto

Leiam estas notícias com atenção:  

"Na Grécia já há 600 mil pessoas abandonadas pelo sistema de saúde" 

"Os médicos Robin Hood da Grécia"

A palavra holocausto tem origem grega e relaciona-se com sacrifícios feitos em honra de diversas divindades.
Hipócrates, também ele grego, é considerado o pai da medicina.

É estranha esta relação entre "holocausto", "medicina" e "Grécia". Estas notícias, que aqui publico, demonstram realmente haver novos sacrifícios em nome de uma divindade moderna: a tróika.
Em nome da tróika, nestes últimos anos, muitos "europeus" morreram e muitos outros, milhares mesmos, estão condenados.
Essa nova divindade parece ter cada vez mais seguidores dentro dos governos deste e doutros continentes. Na procura de milagres que supram desejos obscuros, vão-se juntando e atirando às piras económicas povos inteiros. Ardem direitos, sonhos e vidas.
Que tróika é essa? Que poderes tem? Quem está por trás dessa entidade mágica? Para quem faz ela milagres?
A idolatria por este deus é como uma doença contagiosa.

É extremamente preocupante a rapidez e facilidade desse contágio. Em Portugal, o SNS está prestes a entrar neste mesmo jogo doentio e, como dizem os brasileiros, a coisa vai começar a ficar grega! 
Um exemplo é essa "refundação" da Pátria, proposta pelo PM, onde se pondera a privatização também dos Centros de Saúde, panteão mais puro e sagrado do SNS, primeira porta a bater quando se necessita de cuidados de saúde.

Depois da "racionalização" (ou será "racionamento") dos medicamentos oncológicos, propostos por uma comissão qualquer com pouca ética; depois do aumento astronómico e indecente das taxas "moderadoras" (entre aspas porque é um conceito ridículo e enganoso: essas taxas nada moderam!); depois da queda da comparticipação dos medicamentos e da selvajeria das trocas de substâncias nos balcões das boticas; vêm ai grandes mudanças no SNS... para pior, muito pior. Vai ser iniciada a "matança" dos utentes dos ficheiros dos Médicos de Família; vão ser entregues, às mãos de grupos económicos bem conhecidos, mais e mais instituições públicas de saúde; entre outras medidas que, insidiosamente, vão corroer o único serviço público que (ainda) funciona com qualidade.

É difícil, para quem está do lado de cá da barricada, ficar indiferente às cada vez maiores dificuldades dos doentes. É-nos difícil lidar com as alterações quase diárias na atribuição de isenções, ou nos critérios de transporte, ou na comparticipação de medicamentos. Isso sem contar com o verdadeiro big brother a que se está sujeito no desempenho da actividade.

O que interessa é que se deve, em nome da santa tróika, gastar o menos possível. Independe de guidelines ou linhas orientadoras internacionais, isso nada importa. O que realmente importa, e o que este governo quer, é que os médicos curem com água, que os enfermeiros tratem com guardanapos, que os administrativos trabalhem com penas e que os auxiliares limpem com trapos e cuspo. 

Não quero ser carrasco neste novo holocausto proposto por uma espécie de nova Hécate. Não quero ser co-responsável pela morte de utentes ao cumprir normas rígidas desprovidas da maior arte da Medicina: o "bom senso". Talvez fugindo dessa responsabilidade se vejam partir, para paragens mais racionais e civilizadas, inúmeros médicos e enfermeiros, depauperando, assim, este luso rectângulo.
Resta-nos pensar em fazermos nós alguns sacrifícios. Sacrifiquemos políticos, banqueiros, especuladores. Sacrifiquemos essa corja em nome de Ares e Hades





11 comentários:

Anónimo disse...

Fica difícil aguentar este peso nos ombros, não fica? ninguém acreditaria há algum tempo atrás que a queda fosse tão rápida. queremos mexer-nos, queremos ajudar, mas, enquanto sociedade, parecemos baratas tontas sem fio condutor. sentimos apenas que tudo está mal e não queremos, como tu bem disseste, ser também carrascos desta estranha forma de curar, matando.
temos vontade de desistir do país, mas não queremos fugir cobardemente. queremos futuro.

Cirrus disse...

Estou convencido que é necessária uma revolução. E que é necessário sangue - o sangue dos opressores. Não é conversa mole nem cassete. É a realidade.

PS: lembras-te do que te disse há seis meses sobre o SNS?

El Matador disse...

só ao estalo é que isto se endireita.

Anónimo disse...

porra, mas nem aqui me corrigem?!?

mas ninguém lê o que eu escrevo???
:(((((((

(*a algum tempo atrás... blá, blá. blá...)

Catsone disse...

nAnonima, não temos nenhum grupo organizado, realmente, que nos ponha nos eixos. Falta líder, falta um Bolívar, lol.
PS: é mesmo "há algum tempo", não tinha nada a corrigir... penso eu...

Cirrus, relembra-me lá o que disseste que me esvoaçou da cabeça.

Killer, temos que arranjar um "el matador" para resolver "pequenos" problemas de governação.

Anónimo disse...

bem, pelos menos lês me tu! e sim, tens razão, auto-corrigi-me desnecessariamente.

:)


diz-me, sinceramente, não te assusta este vazio que se vive neste momento?... esta possibilidade de que apareça mais um daqueles com três palmos de testa e que mais tarde se agarra que nem uma carraça e só sai do poder quando morrer?

digo-te, tenho a certeza de que este país vai piorar. ninguém duvide. a reflexão urgente é saber o que vamos fazer em relação a isso.

São disse...

O que PAssos e Portas pretendem é a destruição total de tudo quanto é público, isso é sabido!

Mas o Primeiro-Ministro, que mentiu e continua a mentir descaradamente, sempre afirmou duas coisas: queria mudar a Constituição e fazer mais do que a troika exigia!

A maior parte do "melhor povo do mundo" escolheu-o...portanto, nem há inocentes nesta estória.

Foram eleitos ao longo de anos corruptos conhecidos e alguns já condenados em Justiça...e, consequentemente, quem não se respeita não pode esperar ser respeitado!

Bom domingo.

João Roque disse...

Já me vão faltando as palavras para descrever toda a minha revolta; sou uma pessoa calma, amante de consensos, mas perante o que vou vendo, acredito cada vez mais que isto só muda com soluções extremas.

Catsone disse...

nAnonima, preocupa-me imenso que deste lobo nasça um bicho. Um bicho xenófobo e violento, como surgiu na crise alemã do início do séc XX. Preocupo-me não por mim mas pelos pequenos que apareceram cá por casa. Eu, mal por mal, vou-me aguentando (por enquanto).
O que faremos vai depender muito dos 1os meses de 2013. Quando mais e mais pessoas se virem afastadas de uma vida digna, algo terá de acontecer. Se será com violência, parece-me inevitável: fizemos uma revolução pacífica que afinale era uma puta e pariu estes filhos todos nos últimos 38 anos.

São, reconheço a minha cota parte de culpa, já que nunca deixei de votar. Reconheço-me um dos que apoiou, atravé do voto, um dos partidos que lá estão agora. Isso dá-me legitimidade para reclamar. Acho que ninguém votou neste programa, certo? O que se passa neste momento é baseado em mentiras, umas atrás das outras.
Em casa do meu pai, quando alguém mentia era severamente punido. Como faremos com estes miúdos?

João, quando fores escolher a arma dá um toque :D

Malena disse...

Temo o que virá, por mim e pelos outros! No entanto, só quando houver destruição a sério é que as pessoas vão acordar... Espero bem que não seja tarde de mais!

Catsone disse...

Malena, o problema é que já vão tarde. Aquilo que foi perdido, relativamente a direitos, já não voltará. Não contem com subsídios, com escalões, com nada disso; se tiverem a hipótese de manter empregos já não será mal.