10 junho 2010

Penitência



Vejo-vos em meados de Julho.
Portem-se.

08 junho 2010

Mundial 2010

Já publiquei isto em 2006, mas como estamos em vésperas de mundial, aqui vai novamente



Japão 2010
Esquema: 4-4-2

Gr: Takabora Naturave
Dd: Tokaido Dumakeda
De: Robaro Miasuzuki
Dc: Havara Noku Doi
Dc: Takamao Natukara
Md: Shumio Miokazako
Me: Mataro Miogato
Mc: Fujiro Kayama
Mc: Hiraopito Namata
Pl: Takarasha Nomuro
Pl: Hirao Kumata

Suplentes:
Gr: Hoji Ianamoto
Gr: Benji
Dd: Tsukasa Onamia
De: Daiki Osoko
Dc: Taaki Noai
Dc: Tsutomo Unsumo
Md: Ishibasha Ishikaga
Me: Ken Kumeo Aki
Mc: Miomazda Nonta Mazaki
Mc: Setsukai Matsuka Teuku
Pl: Ishibati Nakina Shora
Pl: Oliver Tsubasa


Treinador: Toko Kudo Endo
Preparador físico: Daikama Aken Takosono
Massagista: Eutoko Teukatso
Fisioterapeuta: Mashashi Takara

Aos meus amigos japoneses (que são bastantes) peço perdão... ou faço um Seppuku (agora sem trocadilho):

Ébrio

Minha 2ª participação para o desafio "Estava vazio..." da Fábrica de Letras... porque apeteceu-me.


Ébrio

Luzes coloridas e ruídos bizarros.
Minha mente estava oca.
Vertigens, tremores, enurese, risos incontroláveis e histéricos… eu era um estranho fora de controlo.
Parece que tentei preencher a falta estranha que fazias e tapar a incrível cratera criada pelo meteoro tu. Refugiei-me em copos de diversos tamanhos, formatos e cores, preenchidos por tudo que contivesse álcool na composição.
Bendito etanol que o meu corpo tentava desesperadamente metabolizar. Quase podia sentir as suas moléculas a dançar no mar vermelho de veias e artérias.
Mais o hálito incendiário e o vómito compulsivo de um estômago revolucionário e marxista a protestar veementemente contra a atitude incompreensível da maioria neuronal que cedera aos interesses sentimentalistas instalados: “porra de paixão vs razão…”

Agora era a gravidade terráquea, travestida de jupiteriana, que empurrava o monte de carne e ossos, embebidos em vindalho, para um chão húmido e fétido. Cambaleava, como se fosse feito de gelatina, pela pista de dança e chocava com tudo e todos que cruzavam a minha órbita errática; quando meu fraco equilíbrio foi finalmente ultrapassado, estatelei-me no solo.
No caminho da queda vi sorrisos jocosos, em duplicado pela diplopia alcoólica, e dedos apontados em reprovação; ouvia sussurros maldizentes em meio a odiosa música electrónica que insistia em martelar a bigorna.
A partir do toque no terreno não senti mais nada, ouvi dizer que perdera os sentidos e partira para um mundo novo…

Vi-me, então, a cair de um céu negro e sentia o corpo leve, como a planar. Um vento quente parecia abrandar-me a descida. Vestia um smoking já comido pelas traças e calçava umas sandálias de couro castanhas.
Estava rodeado pelos mais exóticos animais, alguns deles já extintos há muito e outros que nem era suposto poderem voar. Todos eles sorriam para mim enquanto dançavam com um copo de cidra na pata/asa e uma cigarrilha no canto da boca. Alguns ofereciam-me mais um “drink”.
No fim da descida fui depositado gentilmente, por quatro borboletas bigodudas, num leito cândido e brilhante rodeado por bips electrónicos.

Acordei.
A visão turva permitiu-me ver um cateter penetrando o meu braço esquerdo, o gráfico do ecg que corria num monitor verde e as grades prateadas às quais tinha as mão atadas. Não reconhecia o símbolo do EPE que me hospedava, mas reconhecia estar num serviço de observação hospitalar.
Sentia-me mal. Parecia ter obras no interior da cabeça realizadas por um conjunto de pedreiros e trolhas estrangeiros que martelavam sem parar os ossos cranianos. Os ouvidos teriam, talvez, uma colmeia de abelhas, tal eram os zumbidos que ouvia. A língua mais seca que o Atacama e o estômago em greve sem pré-aviso. A bexiga estava invadida por um cateter e a televisão transmitia, de perrice, um programa matinal grosseiro.
O coração, esse, estava completamente vazio.

De repente, uma mão quente na testa e a tua voz:
“Idiota!.... tive medo de te perder…”

E embriaguei-me, finalmente.


Luís Fernandes Lisboa ®

07 junho 2010

Querida Sony®

Meu HP® finou-se à coisa de um mês. Ao fim de 4 anos de dura labuta resolvi dar-lhe o merecido descanso e está agora encostado num canto do escritório, reservado para emergências.
Adquiri um Sony Vaio. Li numa revista de informática que o modelo apresentava a melhor relação custo/benefício quando comparado com outras máquinas concorrentes e, lido isto, escrito por experts, resolvi comprar um exemplar.
Fiquei espantado com o facto de estar esgotado em todos os lados; não havia na FNAC®
, Worten®, Media Markt®, Rádio Popular®, etc®, devia mesmo ser coisa boa. Procurei-o pela net e encontrei-o numas páginas obscuras de lojas online, mas prefiro gastar meu dinheiro em lugares mais fisicamente palpáveis.
Um belo dia, porém, recebo pelo correio propaganda da Staples® e ei-lo, em toda a sua glória e explendor, escarrapachado nas páginas escarlates da publicidade.
Telefonei logo à madama para ir dar um salto à loja, já que me encontrava longe, e ela lá foi...

Era filho único, o último, o sobrevivente, o derradeiro... e era meu.

Como uma criança, tirei-o da caixa e, antes de o ligar, admirei-o como um turista admira a Gioconda no Louvre. Cliquei no botão on/off que logo acendeu uma luzita e... começaram as desilusões.
O gajo "cracha" com uma frequência que considero desagradável, o Touchpad não presta, os botões fazem uns "poings" estranhos, não é tão rápido quanto pensava...

(Suspiro)

Talvez (o mais provável) seja culpa minha. Talvez tivesse uma expectativa desproporcionada ou talvez ele seja moderno demais para mim. Talvez eu seja apenas tonto... quem sabe?
Resta-me esta curta mensagem à Sony®:
"Vaio pró caraio!"


Espero que saibam traduzi-la para japonês...

02 junho 2010

O homem que tinha dinheiro

Para o desafio: "Estava vazio..." da Fábrica de Letras



"O homem que tinha dinheiro"



O homem que tinha dinheiro tinha tudo. Tinha uma bela casa, tinha bons carros, viajava, comia do bom e bebia do melhor.
Vivia à grande e, naquela semana, era “casado” com uma francesa mais jovem que ele… bem mais jovem que ele.
O homem que tinha dinheiro tinha um nome enorme e que acabava em números romanos. Tinha herança de família. Vivia do império conquistado pelos antecedentes familiares.
Desistiu de estudar e não “tirou” nenhum curso, mas era chamado de “Dr.”. Nunca foi à tropa mas no Brasil era “Capitão”. O facto de ter recheio financeiro fazia-o ser respeitado e idolatrado pelos menos afortunados. Ele era admirado mas ninguém sabia porquê.
Não era músico mas ia à opera, no entanto, nenhuma lhe arrancava lágrimas. Falava de livros que não leu e de peças que não viu, era um erudito sem nunca o ter sido.
Não cozinhava, não limpava, não sabia fazer nada, sua melhor qualidade era gastar e nisso era profissional. Não investia em nada que trouxesse retorno e o dinheiro esvaía-se, mas esse era infinito, tal como a sua ignorância. Não tinha ciúmes do seu dinheiro e compartilhava-o como os “amigos” de cada ocasião.
Não mexia uma palha. Não corria mas ia às olimpíadas; não jogava ténis mas estava em Roland Garros, na primeira fila com um borsalino branco; não pedalava, não nadava… não lutava.
À sua amante francesa, seguiu-se uma brasileira, depois uma tailandesa e uma africana (em simultâneo) e, depois, muitas outras das mais variadas formas, tamanhos, “cores e sabores”. Dizia não enjeitar nenhuma experiência e, assim, experimentava todas. Elas sempre lhe ficavam com um pouco da matéria já que o espírito não lhes tinha nada para oferecer.
Ia passando os anos assim, de mulher em mulher, de lugar em lugar, e não se agarrava à nada. Tinha muito dinheiro, mas apenas conseguia ombros para chorar ou colos onde se deitar desde que aceitassem Visa®.

O homem que tinha dinheiro ria-se muito e era feliz… ou, pelo menos, parecia.

Mas mesmo ele havia de morrer e o homem que tinha dinheiro morreu como os outros: fechou os olhos e susteve a respiração por toda a eternidade. Morreu jovem, mais cedo do que pretendia, deixando o dinheiro, seu único e verdadeiro amor, para trás. Esse entregou-se a outros que seguiram os passos do antigo “amante”.

O homem que tinha dinheiro foi deitado num caixão negro e foi morar no jazigo da família, situado num canto soturno do cemitério da sua cidade natal. Não houve homenagens, não houve salva de tiros ou boas lembranças da sua passagem, e o cortejo fúnebre estava vazio… tal e qual como fora a sua vida.

Luís Fernandes Lisboa ®

Prémios


As digníssimas Helga e Ane presentearam-me com este prémio que muito agradeço: "trata-se de um reconhecimento dos valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc."
Fico lisonjeado pela atribuição de tal distinção a este humilde blog mas vou pedir desculpas por um pequeno pormenor: não costumo passar os prémios.
Não me levem a mal mas não consigo atribuir apenas a alguns blogs. Dessa forma, acho que os que tenho na lista da "concorrência" merecem o prémio também (senão não estavam na lista ;).
Mais uma vez obrigado pela distinção.