16 outubro 2011

The (real) biggest loser

O Estado estava gordo. Estava cansado de ouvir falar de um necessário "fitness" para emagrecer o obeso glutão, sorvedouro de fundos e impostos, em que se tornara. Viciado no doce sabor do dinheiro, dependente da gordurosa perdição da corrupção e preguiçoso nos esforços de obtenção de hábitos administrativos saudáveis, já não conseguia ser suportado pela rede que o aguentava e estava a perder interesses.

O Estado investira pouco na sua educação e saúde. Suas economias eram parcas e o desenvolvimento exíguo nas últimas 3 décadas. Seu plano de seguro social era terrível e ameaçava desaparecer. Crescera pouco para cima e muito para os lados e já não cabia no traje orçamentado anualmente. O peso era tal que as suas pernas não o sustinham e deixara de andar; movimentava-se agora com canadianas, americanas, europeias, chinesas, ou qualquer outras muletas que o pudessem manter em pé.

Já por várias vezes inscrevera-se em ginásios de reputação mundial, contratara diferentes personal trainers de várias latitudes políticas, e, mesmo assim, falhara redondamente. Apesar dos esforços dos supostos profissionais, engordara cada vez mais, ficara pançudo e doente. Estava agora com obesidade mórbida e hipertenso. Aliás, a tensão estava a aumentar de tal forma que ameaçava explodir, a qualquer momento, mesmo no seu coração do poder central. A crescente gula por tudo que estava à sua volta ameaçava os seus sistemas orgânicos e arriscava-se agora à acidentes e convulsões sociais.

Cansado das dietas "ioiô" a que se tinha submetido tantas vezes, resolvera radicalizar: decidira ir à faca. Procurara auxílio de um corporação economico-estética, de renome temível internacionalmente, para resolver os problemas. Esta impingira um sério plano cirúrgico de cortes a direito em todas as suas áreas, inclusive as nevrálgicas.
Iniciara a empreitada com uma equipa cirúrgica supostamente canhota que, no entanto, demonstrara uma incrível tendência para o "show-off", a auto-propaganda e a incompetência (por coincidência, tal como as que a antecederam). Trocou-a por uma (demasiado) destra. Oficializada a nova equipa de salvadores, o Estado começou a ser intervencionado.

Na sala de cirurgia mundial, o Estado foi manietado, anestesiado e esquartejado. Com o seu âmago exposto, seus órgãos funcionais foram cobiçados e ficaram à mercê de um mercado traficante/agiota/especulativo: órgãos funcionantes, com dividendos, foram cuidadosamente retirados; os podres lá se mantiveram, corroendo-lhe as remanescentes entranhas. Nessa cirurgia demorada ( que levará ainda décadas a terminar) grande parte da gordura foi mantida e apenas a riqueza intelectual, o sangue bom e os neurónios funcionantes foram migrados para outros Estados mais saudáveis e activos. Os cortes indiferenciados feriram os tecidos estatais retirando-lhes a sua nutrição e matando-os lentamente.

O Estado então ficou magro de nutrientes e gordo de venenos. Terminou pobre, (miserável mesmo), subdesenvolvido e cheio de sequelas físicas e psíquicas. A desnutrição intelectual levou-o à insanidade. A falta de nutrientes económicos levou-o à anemia e à fraqueza muscular/braçal, atirando-o para a inanição.
Como resultado da abdução das suas mais valias, o Estado implodiu. Caiu por colapso das infraestruturas. Seu esqueleto social ruiu perante a falta das vitaminas laborais e económicas necessárias para o manter activo.

No fim, o Estado, obeso de vícios/magro de virtudes, tornou-se moribundo. Agónico e perdido, morreu pouco-a-pouco e, fagocitado por algo maior, desapareceu...

... ficou, no entanto, num grão das suas cinzas, a lembrança de poemas de glória e de um fino à beira-mar...

8 comentários:

Cirrus disse...

Estás a agoirar!!!

Uma realidade cada vez mais presente. Tens olho clínico (olha se não tivessess...).

Pseudo disse...

Fantástica metáfora!

Demian disse...

Está tudo (bem) dito (infelizmente...) :x

Sahaisis disse...

Gonzalez, a emigração já esteve mais longe!:s

Diário de um Anjo disse...

Assustador mas cada vez mais real

Catsone disse...

Cirrus, eu sou assim mesmo: agoirento. Mas não é preciso ser-se bruxo hoje em dia, concordas?

Pseudo, obrigado :D

Demogorgon, pois, infelizmente. Abraço.

Sahaisis, não digas o meu nome por aqui: podem estar a ver :D

Diário, é só para nos prepararmos psicologicamente para o que aí vem.

Sahaisis disse...

Desculpa, não volta a acontecer :s (se quiseres apaga para aí, assim como assim, não escrevo nadie de jeito :p)

Cirrus disse...

Sim, de facto, concordo. Ser bruxo já foi chão que deu uvas.