06 agosto 2011

Estrelinha de azar

Já há algum tempo que tenho pensado em escrever sobre esta matéria e esta semana, depois de mais um quiproquó com um destes de que vou falar, resolvi finalmente dissertar sobre o tema.

No nosso país parece haver um culto ao carro. Típico de países atrasados, em Portugal quem tem um bom carro parece estar envolto num halo de status vindo sab
e-se lá de onde ou porquê. Muitas pessoas geram opiniões sobre outrem baseadas na viatura conduzida pelo vizinho. A pessoa pode ser a maior vadia, mau carácter, desprezível, mas, se tiver um bom automóvel, já deve valer alguma coisa. Isso pode explicar o facto de os tugas comprarem todo o lixo que os alemães já não querem.

Vou ser claro: eu receio e odeio os Mercedes-Benz 190 ® e afins que encontro na estrada!
Recear porquê? Porquê, na maior parte, são conduzidos ou por velhotes, que mal se podem mexer, ou por putos que querem um Mercedes® para impressionar. Odiar porquê? São feios, velhos, poluentes; odeio-os principalmente porque põem a nu uma faceta da sociedade que me chateia, aquela em que "não é preciso ser, é preciso parecer". Ficam convencidos que, comprando esses trambolhos sobre rodas, passam a pertencer a uma elite qualquer.

Um 190 na estrada é sinónimo de grandes filas e de infracções ao código. Daí que, quando vou atrás de um no IC2, dou uma distância de segurança: 1º porque representam um perigo à segurança dos outros condutores; 2º porque não quero ficar intoxicado com o fumo; 3º porquê são horríveis;
Para além disso, o facto de um fulano conduzir um Mercedes® não invalida que o mesmos deixe de ser uma besta. Já os vi cavalgados nas bermas, em segunda fila, a ultrapassar pela direita ou a pisar riscos contínuos, a esbracejar e esbravejar com tudo e com todos e por tudo e por nada. Parece que educação e civismo, na
maioria dos casos, não faz parte do equipamento de série...

Mas a culpa não é da Mercedes®. A marca apenas fabrica os carros. A culpa é de uma sociedade que julga os outros pelo que têm, pelo que veste, pelo que aparenta... triste comunidade motorizada.

No entanto, há oásis nesse deserto de mediocridade. Não sei se já escrevi aqui, mas há pouco tempo ouvi um jovem colega meu proferir uma das frases mais simples e bonitas que ouvi nos últimos tempos. Dizia ele que gostava de ter 5 filhos. Falei do meu espanto, de que não é normal hoje em dia o desejo de famílias numerosas e das dificuldades económicas que as pessoas referem para criar um filho. O meu
amigo, de forma muito calma e singela, respondeu: "se não puder ter um Mercedes® tenho um Renault Clio®".
Valha-nos esses que nos "enxergam" para além da nossa embalagem e
nos julgam pela nossa alma.


"Se não fosse o 190 não arranjava essas gajas boas (todas com mais de 18!)"

12 comentários:

Rain disse...

Vá confessa, quem te inspirou a escrever isto foi o Rowan Atkinson ter espatifado o McLaren F1 dele! ;P

Catsone disse...

Epá, nem digas nada. O verdadeiro idiota, afinal, não é a personagem...

Pseudo disse...

Eu acho que o nosso Ministro das Finanças é parecido com a personagem acima mencionada. :)...Reparem bem no arzinho dele.

Sahaisis disse...

Acho deliciosa essa ideia. O carro não interessa para nada. O que interessa não é o carro que conduzes, é a forma como te conduzes. e é admirável a coragem desse teu colega...5 filhos...já viste as abstinências que ele vai passar? esse é que vai ter um braço direito brutal :P

João Roque disse...

Nunca me impressionou a marca de um carro; mas olhando para trás vejo que já tive um Honda 600 (uma caixinha de fósforos), que espetei; um Renault 10 em segunda mão com motor atrás, que se desequilibrava tanto quando havia vento, que tinha de lhe pôr sacos de areia na mala, à frente, e que espetei.
Depois um Fiat 124, que espetei.
Comecei a ter medo e guiei durante tempos uma 4L que adorei e à qual fiz 250.000 kms.
Seguiu-se um R5, que também me satisfez e depois um carro que adorei, um Ford Fiesta S, que era uma máquina.
Comprei depois um excelente Honda Civi, que usei até mais não poder.
Entrei numa fase menos boa e uma amiga deu-me um Fiat Uno em 5ªa mão que quando chovia, parecia um lago.
E agora tenho desde há muito um Mitsubichi Colt, que bem precisa de reforma, coitado, mas não me sai o euromilhões....
Parecia a história do Solnado sobre a ida a guerra, caramba...

Catsone disse...

Pseudo, por acaso é um "look alike", realmente.

Sahaisis, muito bem "dizido". É pena que as pessoas gostem mais do embrulho e do lacinho do que da prenda.

Pinguim, só maquinões o teu historial!!!

Cirrus disse...

A Alemanha é um país atrasado?

Catsone disse...

Cirrus, a Alemanha é atrasada em algumas coisas, ou pelo menos a sua chanceler parece ser. Penso que um alemão não dá tanto valor ao bólide como se dá por estas bandas.
Vê lá, e agora é Agosto, conheço muito boa gente que aluga grandes carrões para vir laurear a pevide por cá.

PS: dos países do norte da Europa, a Alemanha é o que menos simpatizo (menos ainda que a Finlândia...)

Briseis disse...

Eishhhhh... Muito verdade. Isso e o "mas o senhor sabe com quem está a falar?" são o nosso cancro...lol

Cirrus disse...

Olha lá, mas nós não somos quem fica com os carros que eles já não querem???

Catsone disse...

Briseis, entre outros tiques da malta.

Catsone disse...

Cirrus, correcto, e o que os franceses e suíços também não querem. O que quero dizer é que esses povos (parecem) privilegiar outros valores que não o automóvel.
Foi feito um estudo sobre o que as pessoas dão realmente valor. Na Noruega as escolham decaíram em "família", "saúde" e "amigos", no Mediterrâneo incidia principalmente em bens materiais (carros e casas, fundamentalmente).
Pelas minhas bandas a aparência conta mais do que os valores cívicos e educação, foi fundamentalmente isso o que quis transmitir no post...