Antes de mais, eu sou um indivíduo com alguma fé.
O bom de ser médico é que existe sempre alguém disponível a nos ensinar algo. Há sempre o indivíduo "tu estudaste mas não sabes esta!". Temos paciência e o nosso senso crítico/científico (alguns incluem arrogância mas, modestamente, não é o meu caso) tenta filtrar o que de verdade pode haver nessas histórias.
Isto tudo para contar o que se passou comigo outro dia.
Fui convidado para um aniversário de alguém muito querido e, obviamente, não faltei.
Estavam praí umas 50 pessoas na festa, a maioria crianças, e eu conhecia, bem, apenas uma dúzia desses convidados. Como pessoa (anti)social que sou, foi a muito custo que fui tentando me "enturmar".
A dado momento dessa missão sobre-humana, cheguei à uma roda de homens, me desculpem: Homens. Os senhores, muito a propósito, falavam de soluções caseiras para problemas clínicos banais.
De repente um deles, meu amigo, dispara (para provocar):
"- Tá aqui o xôtôr que não acredita em nada disso!"
"- Ah, tu és médico?", falou um indivíduo, grato pela oportunidade, que não me conhecia de lado nenhum e com um sorriso do tipo: "já te fod$!". "- Quer se dizer que não acreditas nessas coisas, hã?"
Respondi, educadamente, que acredito no que pode ser cientificamente provado e tal...
"- Então diz-me lá, sabes como se cura uma picada de peixe-aranha?", perguntou-me com uma sobranceria que eu só esperava ver num qualquer Dr importante.
"- Bem, não é algo que aconteça todos os dias.", e expliquei o que o senso comum manda fazer, adicionando também algum conhecimento (pouco, devo confessar) que tinha sobre a picada deste peixe.
"- Mas olhe que não é nada disso!".
"- Não? Não me diga. Então o que é?", já preparado para aguentar com o embate de uma mésinha sensacional.
"- É assim: primeiro pega-se num tarolo de bosta de burro seca e na ponta ateia-se fogo. Quando não houver fogo e apenas existir uma brasa, coloca-se a ponta do estrume onde o peixe picou e "prontos".
"- ..." por um momento...
"Agora sim, chefe. Agora eu acredito. Sou crente. Isto tem mesmo fundamento". E afastei-me.
O acontecimento fez-me lembrar de uma mésinha contada, em jeito de brincadeira, por um amigo meu: "- Sabes o que é bom para a diarreia? É o milho verde: comes o milho e se não passar a caganeira, enfias o sabugo pelo cu acima!!!"
Mas, no entanto, fiquei a remoer a cena e surgiu-me uma preocupação: será que devo sugerir aos meus utentes que incluam, na bagagem de veraneio, um tarolo de merda de burro seca? E será que tem, obrigatoriamente, que ser de burro?
9 comentários:
A sério? A bosta é mésinha para (quase) tudo!
Mas acho que tem mais cientificidade a espiga pelo cú acima!
Enfim...
Aquele "lol" não era em tom depreciativo nem nada do género, reconheço a importância e estou em sintonia com as necessidades do pessoal, "prontos"...até poque eu estou em lista de espera há 8 anos.
Têm menor lista de espero os transplantes renais, dass... ;)
Esta mezinha com bosta de burro fez-me rir às gargalhadas. Eu não sei como é que uma pessoa se aguenta com ar sério a olhar para alguém que acaba de contar isso! Brilhante... e a imagem a seguir parte tudo! :D
E as gargalhadas descem de tom quando eu penso que já fui mordida duas vezes por um peixe aranha!...
Da primeira meteram-me o pé em água fria e da segunda em água quente. Devo dizer que a primeira resultou melhor, a dor em água quente era assim bastante forte, vá! Mas bem bem era mesmo terem o raio do spray que vendem para estas ocasiões. E porque é que não tinham? Porque o nadador-salvador estava de férias em Julho em plena praia algarvia! Perfeitamente normal... bem vindos à tugalândia.
Rain, repara na primeira linha do cartaz, na parte branca: "A breath of fresh air..."
É preciso ter azar e ser picada duas vezes pelo raio do peixe no Algarve. É que o gajo gosta de águas mais frias. Nas praias daqui tem montes deste bicho simpático...
Vou incluir isso na minha mala paea itália e quando os gajos perguntarem vou dizer...como se diz bosta de burro em inglês??
Também ouvi essa ladainha da água fria e sei que de todas as vezes que fui à praia da Barra nunca me aconteceu nada. E a primeira picadela foi em Manta Rota, praticamente em pleno Mediterrâneo!
Acho que os biologistas têm que rever o habitat do animal... Já agora, tirem também o "migratório" à cegonha. Obrigada.
Estou a ver a cena, a tua cara... ui, ainda bem que ainda não se dá para ler pensamentos!!
Se fizeres só a cena do calor, mesmo sem a puta da bosta de burro, funciona igual uma vez que a toxina é termolábil. Contudo, a melhor maneira de combater a dor se a mordidela for periconal ou anal é assapando com piroco até entrar em incandescência... Desde que não seja peludo e descaído como o teu, naturalmente, caríssimo Catsone.
Não senhor! A bosta tem de ser fresca. Por isso há que levar um burro para a praia. Sempre!
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