08 setembro 2012

Coragem

Portugal sempre foi um país de corajosos. 
O infante a impor-se, os navegadores a atirarem-se ao desconhecido, expulsão de mouros, padeiras tresloucadas, entre muitos outros.
Sempre foi tradição nossa enfrentar perigos, desbravar fronteiras, ir onde ninguém foi, defender o que é nosso com unhas, dentes e fornos. 
A nossa história tem guerras, tem conquistas, tem sangue e tem triunfos.

É óbvio que a coragem abunda nos genes lusos. Com essa carga genética temos coragem para enfrentar os problemas, dar a cara, procurar soluções no estrangeiro, sem medos ou hesitações. 

Mas toda a regra tem excepções, correcto? E existem várias subjectividades na interpretação do termo "coragem". Vejo coragem em alpinistas que perdem extremidades do corpo ao tentar alcançar os pontos mais altos e assim tocar seus sonhos; vejo coragem no pescador a enfrentar intempéries em busca do sustento; há coragem no contingente luso nas missões da nato; coragem nos que querem desafiar dogmas; há coragem nos bombeiros, polícias, médicos e enfermeiros. Há coragem... mas também há fadiga.


Ouço comentadores político/económicos, após mais uma sentença à morte de outro mês de salário, que este governo tem coragem. Sorrio desconsertado! Que coragem existe em cortar salários? Que coragem está em manter cortes de pensões? Que coragem existe em proteger grandes interesses? O facto de um primeiro ministro, com um discurso pré-fabricado, dizendo aos mortos que serão novamente sacrificados à santa Tróika, em directo, sem pingo de vergonha, pode ser encarado como um acto de coragem? Que raio de gente corajosa é esta? Levar um país inteiro a miséria em nome de algo económico/mitológico é corajoso? Então e as PPP's, as Fundações, os Institutos, a GALP, EDP, os paraísos fiscais, não existe coragem para uma espetadela?


Realmente, "coragem" não terá o mesmo significado para mim. Coragem para mim será ver erguer-se, novamente, desta vez com vermelho sangue em vez de cravo, um povo cansado mas corajoso e cobrar, de uma vez por toda, esta infâmia sem fim.

Alguém que dê o mote...


Parafraseando o grande Cazuza:

"...Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para, não, não para..."



7 comentários:

Malena disse...

O que eles nos fazem é sacanice e não coragem! O problema é que o povo parece estar em coma!

El Matador disse...

A única coragem que existe neste país é para ser manso. Se houvesse coragem a sério não tinha havido 50 anos de ditadura.

Anónimo disse...

o povo anda anestesiado... e se não houver uma classe qualquer (com interesses próprios - como os militares em 74) - que lhes faça a revolução, esqueçam.

J. disse...

Belo texto, bela atitude.

Mz disse...

Neste momento são eles que têm toda a coragem.

Onde está o garante da constituição? Não é decerto neste Presidente da República que continua a aceitar a violação de direitos constitucionais.

Eu até já acho que no final, o caso face oculta irá ser uma brincadeira de crianças.

Catsone disse...

Malena, espero que o povo acorde em breve. Não temos mais faces para dar à tanta porrada!

Killer, o povo não é manso, foi hipnotizado por promessas e não quer acordar de um mundo imaginário...

NAnonima, nem mais.

João, tks, que esta atitude se multiplique por mais e mais bloggers!

Mz, vou vê-los arriados de medo quando a massa fermentar e se erguer! Quanto ao Cavaco, tem o rabo muito preso para fazer o que quer que seja. E o face oculta é um espectáculo para nos entreter enquanto nos entram nas casas pelas portas dos fundos (sem trocadilhos, ok?).

Cirrus disse...

Boa alfinetada!