10 junho 2009

Poetizando o quotidiano

O jogador apodera-se da bola. Cavalga alguns metros, passa por três adversários. É possível observar o seu ar estasiado ao conduzir a redondinha. Por um segundo pára, pensa e arranca um remate daqueles em que é necessário buscar forças a todo o universo.
A bola descola, numa velocidade tal que tudo à volta turva-se. Quase se consegue ouvir seu grito de desespero enquanto viaja à velocidade da luz. Ela paira chamando a atenção de todos os presentes. Os adversários rezam para que não atinja a baliza, o jogador e seus companheiros oram para que seja tento.
Mas estão todos errados. A bola viaja directamente na minha direcção. Choca, com uma violência brutal, contra os meus queridos genitais. Naquele momento eu vi estrelas. Naquele momento era a única coisa que via.
Meu corpo estremeceu com o impacto. Todos os órgãos ficaram confusos, sem saber o que aconteceu e sem saber como proceder. O coração batia o mais forte que conseguia. O cérebro enviava mensagens erróneas por todas as vias e não obtinha respostas. Os rins sofriam com o chicote dos ureteres. Os genitais, esses, encontravam-se em coma.
Num reflexo, as mãos dirigiram-se imediatamente para o meio das minhas pernas, procuravam, ao que parece, recolher os restos mortais dos aparelhos reprodutores. Talvez fosse uma forma de compensar o facto de se terem atrasado na função de proteger aqueles instrumentos.
O resto do corpo contorcia-se no chão. Rebolava como uma mulata, epiléptica, na Sapucaí.
Num instante rodearam-me colegas e adversários , preocupados com o facto de eu já ter, ou não, originado descendência. Depois da resposta afirmativa, soltaram um suspiro e riram-se, nervosos, já que da próxima vez podiam ser eles as vítimas.
Recomposto, retorno ao meu lugar. Agora uma das mãos sempre atenta a proteger os lesionados. Quem disse que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar?

2 comentários:

Sahaisis disse...

aconteceu-me uma vez..quer dizer não é bem isso...aconteceu-me uma vez no volley ser atingida com toda a força no nariz...e sim, ainda que nos genitais seja mais doloroso, levar uma bolada é horrível..

forteifeio disse...

Deixa lá se fosse no estômago ainda era pior, aí até ficavas sem ar