26 novembro 2008

Adormecer

Ela expirou pela última vez, e pela última vez seu coração bateu. Depois apenas o silêncio.
Todos à sua volta afastaram-se de tal forma que, se alguém visse a cena de cima, parecia uma flor a desabrochar com ela ao centro.
Os que tentaram segurara-la a este mundo olhavam-na cansados e derrotados, afinal não eram deuses... e isso os chateava.Ouviu-se ao fundo da sala um "são ossos, meu amigo, ossos!".
Ela agora descansava, desta vez para sempre. Decúbito dorsal, seminua, com fios e catéteres, foi deixada ali a espera de outras mãos.
Ainda olhava para o tecto, boca entreaberta, numa expressão de medo e espanto. O que será que se vê, pela última ou primeira vez, ao esvair-se?

"São ossos, amigo, ossos" ainda ecoava...

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