06 outubro 2011

Desabafo

Caro leitor, encare este texto apenas como um desabafo, um desalento de alguém entristecido. Não sinta pena, não tenha compaixão, não julgue; apenas leia se tiverem pachorra e encare isto como algo sem qualquer importância e que só serve para aliviar um pouco a alma de quem o escreveu.



Estou de férias. Uma semana que saio do inferno do meu trabalho, mas trago-o comigo, como um moedouro que não me permite o afastamento completo.

Desde miúdo cultivei um sonho: ser médico. Trabalhei muito ao longo do liceu, privei minha adolescência de várias “coisas da idade”; namorei tarde, saí tarde, vivi pouco daquela fase buscando o objectivo que tinha em mente. Fui muitas vezes tentado, ridicularizado, provocado por aqueles do “deixa-estar”, do “empurrar-os-anos-com a barriga”, do “tu-só-sabes-estudar": bando de chicos-espertos.
Porquê ser médico? Porque sempre tive tendência para ser otário. Sim, isso mesmo: otário. Porquê? Porque, pensava eu, poderia, assim, ajudar quem mais precisasse. Ajudar o doente, o dependente, o desesperado. Coisas que vejo, agora, terem pouca ou nenhuma importância para a sociedade em que vivemos. O interesse actual gira em torno de outros dogmas muito menos magnos.

Tinha o médico como um ídolo e um modelo que gostaria de seguir. A beleza da arte me fascinava: a preocupação para com o próximo, o segurar da mão e o mimo ao doente, o sorriso fomentador de esperança, o consolo da família. Tinha um enorme respeito pelo médico que ía, solícito, à casa do doente; adorava ver o que tinha na mala e prestava atenção à observação que fazia ao doente. Idolatrava a postura, a sabedoria, a delicadeza e a educação inerentes à profissão. Ignorava que era um trabalho igual a tantos outros e sujeito a alvíssaras.
Era isso que desejaria fazer para sempre e faria tudo o que pudesse para alcançar esse propósito.

Passados os anos de clausura (e muitas vezes solidão) veio a recompensa: Coimbra. Passei as passas do Algarve para acabar o meu curso. Estudava durante a semana, tentava ajudar os meus pais no fim-de-semana, arrisquei o meu relacionamento com a minha mais-que-tudo. Não aguentei a pressão e deprimi passado algum tempo, pensei e planeei formas de entrar em contacto directo com o Criador, foram lágrimas, suor e quase, mesmo quase, sangue. O meu percurso na faculdade não me orgulha… mas levantei, sacudi a poeira, dei a volta por cima e consegui.
Fiz o Juramento de Hipócrates e nessa altura senti-me médico por inteiro. Não foi o diploma ou o cartão da ordem que me fizeram médico, foi o meu esforço espelhado naquelas frases feitas mas com uma minha interpretação própria.

Enveredei pela parente pobre das especialidades médicas: a Medicina Geral e Familiar. Tão falada nas notícias, tão pouco compreendida por todos (inclusive muitos dos que a representam e praticam). A especialidade que "vê" a pessoa como um todo e que é a pedra basilar do sistema de saúde. Se for feita com seriedade e respeito: a mais bela forma de se fazer medicina.
Foram quase quatro anos de mais trabalho, de investigação, de aprendizagem e de mais privação pessoal e familiar. Novamente consegui e desta vez com distinção.

Hoje sou Médico de Família. Trabalho no que sempre quis e sonhei... mas quem sonha muito, por vezes, tem noites em que sonha mal.

Estando no terreno vê-se o que não se vê nas polegadas da TV. O que jornalistas, políticos, alguns médicos e utentes dizem não corresponde à inteira realidade e não pinta o quadro todo. Quem "é de fora" não tem noção (nem compreende) a dificuldade da tarefa, as pressões várias dos doentes, dos colegas, dos chefes, dos políticos e as limitações do próprio médico. Não se pense que é fácil ser-se médico e gerir todo um mundo de interesses que de medicina nem sequer chegam a ter cheiro.

Tal qual a imagem que sonhava, norteio a minha prática pela ética, honestidade, seriedade, rectidão e trabalho. Chego à conclusão que todas estas virtudes encontram-se subvalorizadas. Quem por elas se orienta é alvo a abater porque encrava o sistema instituído. Vejamos, é mais fácil mentir, aceitar, resignar-se e ir com a corrente do que insistir e lutar contra o que se considera errado. Quem muito cria raízes arrisca-se a sofres mais na hora de ser arrancado do sistema.

Cheguei à conclusão (em muito pouco tempo) de que, ao fim dos meus dias de trabalho, pouca medicina faço. Sou mais um secretário. São papéis a mais e estetoscópio a menos. São burocracias, economias, números e estatística, vontades e direitos hipertrofiados; ninguém dá valor aos deveres e responsabilizações.

Cansa muito mais ser íntegro; seria mais simples juntar-me à manada.


Depois de tantos anos de trabalho árduo em busca de um sonho, entristece-me concluir que andei atrás de uma fantasia, de um unicórnio alado. Cheguei à triste conclusão de que, mais que os doentes, é a própria medicina e seus agentes que padecem de patologia. A medicina e o sistema de saúde estão podres e os seus valores subvertidos. A figura do médico, que me apaixonou à infância, existe agora em forma residual, aqui e ali; deixou-se borrar pelos interesses instituídos, pelo sonho de riqueza, pela arrogância de um posto, pela má gestão e pelo facilitismo. Deixou-se levar pela falácia dos políticos, pelos desejos insustentáveis e impaciência dos utentes e esqueceu-se dos verdadeiros doentes. Elegeu pessoas para as representar que não têm a visão daquele que sofre no horizonte e que apenas defende os seus subscritores (e mesmo assim nem todos e nem nas situações que deveria). A Medicina está agónica e a precisar urgentemente de um Hipócrates ou Galeno.

Talvez seja eu e a minha irritante tendência ao exagero. Talvez a culpa seja minha de idealizar uma imagem que nunca correspondeu à realidade. Talvez seja apenas muito ingénuo (mea culpa). Talvez seja apenas uma fase em que esteja hiper-hidratado e necessite libertar alguma água pelos olhos sempre que termine o dia de trabalho. Talvez nada disso exista e seja apenas uma miragem da minha personalidade negativista. Talvez... quem sabe?

Neste momento, a medicina que sou obrigado a fazer deixou de ser apaixonante, divertida e, pior, deixou de fazer sentido.

Espero por dias melhores...

34 comentários:

Sahaisis disse...

Li o teu desabafo, não sei o que te dizer, é nos doentes que encontro a minha realização pessoal no meio do trabalho. Procura neles Cats, o resto nunca está lá...

Ceres disse...

Gostei de ler o teu desabafo pois dá-nos, sem dúvida, uma prespectiva do reverso da medalha.
Enquanto utentes todos nós já nos cruzámos com médicos que nem para nós olham e é bom ler alguém que sonhou em ajudar os outros e se sente impossibilitado de fazer o seu melhor pelo sistema instituído.
Na minha humilde opinião sei que ir a uma consulta e encontrar um médico que se preocupa, que nos olha de verdade, que nos sorri ou que nos dá a mão num momento de desespero é fundamental. Podes não poder mudar o sistema sozinho ou remar contra a maré, contudo se deres de ti de cada vez que um paciente entra no teu consultório já estás a mudar o dia, a saúde e até a vida de alguém :))
Segue o teu sonho, na medida do possível, perante cada doente e continua a indignar-te perante as injustiças da carneirada. Embora tenhas períodos de desespero e de angústia, vais sentir também a realização naquilo que dás aos teus doentes!

anouc disse...

What?

Fazes uma pequena ideia da diferença que podes fazer todos os dias a cada pessoa que consultas?!?

Parece-me que não ó Cat! Apanhas no lombo, oh!

W. C. Fields disse...

Ainda noutro dia vi na TV um médico ainda novo que meteu reforma antecipada, e que falava dos mesmos problemas. É frustrante para quem não tem pachorra para mediocridades querer fazer o seu trabalho e obrigarem-no a ser um administrador de papelada e passador de receitas. A esquerda festiva adora burocratizar tudo, e por detrás de ataques a esta e a outras profissões moram interesses mais obscuros, estou certo.

RB

su disse...

o que importa, acredito, é aquilo que fazemos e o amor que colocamos em cada acção. é reconfortante saber que existem médicos assim, que se preocupam, realmente. muitas vezes, escrevi sobre o tema, lá pelas minha bandas. nos teus comentários li a sensibilidade e, por vezes, a revolta. acredita que nesses momentos senti-me, de certa forma, apoiada. ouvida. apesar de ter sido na blogosfera e não conhecendo o médico, senti o que precsava ter sentido no consultório. e isso foi muito bom... por isto tudo que consegues por estes lados, e por tudo que deves conseguir no teu consultório[pá... os teus pacientes são mesmo uns sortudos!], só te posso dizer que tens que continuar. porque há tão poucos médicos assim... não te podemos desperdiçar :) a luta não se ficou pelas cadeiras de coimbra... continua por toda a vida. por isso, e quanto às lágrimas ao fim do dia... olha para os teus filhotes. o sorriso deles cura tudo.

"Ela chegou. Os olhos enormes e vivaços miraram-me, as pernas aceleraram, os braços abriram-se num grande pequeno abraço e a língua, no início da afinação, estala um grande "É o pai!" na minha triste face.
E puff!... tudo o resto deixou de ter qualquer importância.

Amor: está aqui um remédio que tenho de começar a prescrever mais vezes..."

;)

Pronúncia disse...

Cat, não sou médica, mas nem imaginas o quanto me revejo em muitos dos desabafos que aqui deixaste.

Sabes que mais?! Tu fazes a diferença... e que diferença.

Catsone disse...

Sahaisis, pois amiga, tu tens doentes, os meus são mais pedintes, if you know what i mean...
Óbvio que tb tenho doentes com cancro, diabéticos, HTA,entre outros, mas felizmente ou não, uma grande parte dos meus utentes não me merecem (gaba-te cesto).

Catsone disse...

Ceres, obviamente que tenho as minhas consultas de "vitória"; daquelas que servem para levantar o ego; nas que os doentes sentem-se realmente agradecidos e nem sequer precisam dizer "obrigado"; nessas consultas gosto eu de dizer obrigado.
Eu estou lá por esses "esporádicos" :D

Catsone disse...

Anouc, estou a precisar apanhar, realmente...

Catsone disse...

Rocky, eu já escrevi em diversos textos que estamos entregues ao bicho burocrata e que quem está a chefiar centros nevrálgicos da sociedade são medíocres sem qualidades.
Espero estar errado mas vamos assistir uma debandada dos nossos melhores profissionais, não apenas da saúde mas eu falo do que sei: médicos e enfermeiros de qualidade "perdidos" para os ingleses e espanhóis.
Não coloco isso em termos de polaridades políticas: são todos a mesma merda! Não sabem do que falam, não conhecem o terreno, são mestres em demagogia e fala-baratismo.
Portugal é uma laranja sumarenta prestes a ser espremida e o bagaço vai ter que arcar com tudo...

Catsone disse...

Caminhante, uma frase que uso muito: "nem Jesus agradou a todos". Não tenho a veleidade de agradar a todos e posso te dizer que muitos dos meus utentes não gostam de mim.Porquê? Porque estavam mal acostumados. Estavam acostumados aos peditórios, ao facilitismo, a terem resposta positiva a tudo que queriam por mais estapafúrido que fosse o desejo. Eu cheguei para mudar, para dar qualidade e mudei mesmo a forma de trabalhar do meu local de trabalho e, obviamente, arranjei "inimigos". Com esses posso bem. No entanto, quando o cancro corrói de dentro para fora a coisa complica um bocadinho.
Meus oásis continuam a me safar os dias e digo-te, se não fossem eles...

Catsone disse...

Pronúncia, a maioria da malta da minha idade, que terminou o internato da especialidade de Medicina Familiar nestes últimos tempos pensa como eu. O nosso problema é que estamos manietados por vermes: colegas mais velhos, políticos, comissões de utentes e protectores de doentes (que de protectores só tem o nome das diversas associações), entre outros mentecaptos. Tudo o que encrava a saúde é feito por fulanos que não são médicos, enfermeiros, farmacêuticos ou outro agente da saúde. Não te digo que seria melhor, por que não sei, mas pelo menos teriam uma ideia mais clara do que se passa na saúde. Para esses fulanos o que interessa são números, é a quantidade, são os votos que a saúde dá e isso tudo reflecte no que nos obrigam a fazer diariamente. Um dia irei ponderar publicar um texto com todo o lixo existente nesta área. Como os brasileiros dizem: jogar merda no ventilador; e vai haver muita gente borrada.
Vamos nos aguentando... por enquanto.

Dylan disse...

Compreendo-o porque sei o que se passa no meio.
Costumo comparar a sua profissão com a de um professor: as dificuldades são muito parecidas.

Pronúncia disse...

Cat, gostei da analogia... também já me passou pela cabeça "jogar merda na ventoinha..." ;D

Catsone disse...

Dylan, o que se passa com os professores é de um desrespeito atroz. Não é à toa que muitos deles vão parar à minha consulta com problemas psicológicos.
Enquanto mantivermo-nos assim, nesta inércia, não haverá qq mudança. Eu estou a ponderar agir de alguma forma...

Dylan disse...

Também esqueci de referir a humilhação e o desrespeito de que são alvo algumas forças policiais.

Nane disse...

Fiquei sem palavras...
Por mais que se possa dizer, nunca se consegue dizer o acertado para que a magoa se vá embora...
Força... lembra do "não reclames"? a culpa é do outro sabes!! Agora paga, se é que me entendes!! :)
E se te conforta... há pessoas que sentem por ti tudo aquilo que escreveste aqui: admiração, respeito e muito muito orgulho!!

mz disse...

Eu ainda encontro na minha médica de família (na aldeia)esse sonho ingénuo e verdadeiro. Nem sempre estou lá, mas tenho uma grande ligação com ela e todas as consultas que faço em médicos privados, (porque agora estou mais longe da minha casa natal) sempre que posso, cruzamos informação. Ela é muito, mas muito importante para mim... é uma ponte entre a tal medicina do médico em casa de antigamente, é alguém que eu vejo muito para além do diagnóstico e de todos os compêndios médicos. Isto faz falta a todos nós... é algo que não se pode comprar.
Não desistas do teu sonho mesmo que os obstáculos se entreponham e faça parecer que nem tudo valeu a pena. Claro que valeu a pena!

Gostei muito de ler o teu desabafo, principalmente pela tua força, empenho e persistência...

Eu lembro-me de ler dois textos muito felizes aqui; um a anunciares que eras médico de família e outro a contares que já estavas mais perto da família.

FORÇA!

João Roque disse...

Não te conheço pessoalmente, mas faz-se sempre uma "fotografia" (não me refiro à parte física) das pessoas que vamos encontrando aqui na blogosfera.
E este texto, veio ajudar, e muito, a retocar a foto que tenho de ti, mas não alterou absolutamente nada, essa imagem.
Tenho um enorme respeito pela tua profissão e só não a segui,porque para embarcar nela é preciso mais que vontade: é mesmo necessário ter vocação...
Dou-me muito bem com a minha médica de família, que me dá o prazer, além de cuidar da minha saúde, de ser minha amiga, e pelas nossas conversas, tudo o que dizes, com poucas alterações, já ela me tinha dito.
Vai em frente, porque nós precisamos de gente como tu, na fraca saúde que vamos tendo.

Catsone disse...

Nane, tens visto o meu estado, já devias ter pervebido ;)

Catsone disse...

MZ, obrigado pela força.

Catsone disse...

Pinguim, esta "virtualidade" da blogo permite ver apenas uma parte de nós, e mesmo assim só aquela que queremos ou interessamos mostrar ;)
Vamos levando porrada e tentando levantar mas lá virá um dia que ficaremos a descansar no chão...

Pseudo disse...

Ui! Já me senti assim tantas vezes. Hoje em dia eu lido com números: percentagens que obtiveram nível 2, percentagens que obtiveram nível 5....e assim sucessivamente. O teu desalento e o meu são muito parecidos. Longe, muito longe de ser perfeito, nem nunca o serei, mas sei quando "toquei" algum "número" para o resto da vida, precisamente porque consegui ver para lá do "número".

Pseudo disse...

*perfeita, quero eu dizer

Mayara Floss disse...

Olá Catsone,

Li sua vivência médica, e não pude deixar de comentar. Sou estudante de medicina no Brasil, e gostaria de pedir se ainda consegues se reencontrar, voltar para o começo da vida universitária para o sonho do que queria se tornar, às vezes, precisamos buscar a nossa essência e não nos arependermos dela.

Deixo alguns textos do meu blog para leres quando tiveres um tempo:

http://entre-primos.blogspot.com/2011/06/olhos-nos-olhos.html

http://entre-primos.blogspot.com/2011/06/sobre-palcos-e-joelhos-medicina-fora.html

http://entre-primos.blogspot.com/2011/06/anatomia-e-borboletas.html

Johnny disse...

Como é só um desabafo, tá-se bem. Força aí!

Catsone disse...

Pseudo, pelo que parece as nossas classes profissionais padecem das mesmos problemas. Então o desrespeito por vós é qq coisinha.
Como disse: à espera de melhores dias.

Catsone disse...

Primos, apenas por me lembrar do que queria alcançar é que me mantenho na "arte". Sabia que o nosso caminho é tortuoso mas esperava ser mais expedito nas curvas.
Quando fores para o terreno verás que as forças ocultas (bem o sabia o Jânio Quadros) empurram-te para o sistema e lutar contra isso pode ser bastante doloroso.
Não ligues ao meu desabafo e esforça-te na perseguição do sonho e na benfeitoria ao próximo pois é isso que interessa.
Abraço.

PS: vou tentar (que o tempo é escasso) ler o que me propões.

Catsone disse...

Johnny, infelizmente este desabafo vem lá do baú das frustrações que começa a ficar com pouco espaço.

Carlos Albuquerque disse...

Caro Amigo:
Como o teu, o meu sonho, pelas razões que aludes, foi sempre o de ser médico. Tive-os na família, já não estão entre nós.
A vida, porém, pregou-me uma baçula e fintou-me à Garrincha. Atirou-me para outros caminhares. Foram licenciaturas em Sociologia, Antropologia, sei lá que mais, hoje seriam doutoramentos...Acabei no jornalismo e na escrita com livro publicado e outros a caminho de o serem. Vamos ver!
Ao ler o teu "desabafo" senti um grande respeito e admiração por este médico de Medicina Familiar, por este Médico de Família.
Notável médico terás que ser para responderes a um comentário:
"Ceres, obviamente que tenho as minhas consultas de "vitória"; daquelas que servem para levantar o ego; nas que os doentes sentem-se realmente agradecidos e nem sequer precisam dizer "obrigado"; nessas consultas gosto eu de dizer obrigado.
Eu estou lá por esses "esporádicos".
A minha experiência com médicos tem sido dolorosa. Já vou com 16 cirurgias (com anestesia geral) motivadas por uma prótese total da anca feita em 1997. Infectou e os "especialistas" ficaram sem saber o que fazer para combaterem o estafilococus aureus. Muito poderia acrescentar, mas basta dizer-te que foi um Médico de Família (luso-guineense),dos tais que não espera um "obrigado" dos utentes,pacientes ou doentes, como queiramos,que me esclareceu e disse o que deveria comunicar aos "especialistas" para estabilizarem a infecção, sugerindo, inclusivamente, 60 sessões na câmara hiperbárica do Hospital da Marinha, o que fiz.
Ele já se reformou. A sua substituta (portuguesa de ascendência indiana)é da mesma estirpe.
Nós, todos nós, muito devemos aos médicos de Medicina Familiar. Grato por seres quem e como és.
Um grande abraço

Johnny disse...

Como é só um baú, tá-se bem. Força aí.

Catsone disse...

Carlos, talvez a Medicina tenha perdido um grande médico, mas as letras "ganharam" um óptimo escritor. Confesso-te que me emocionaste com o teu comentário. Sincero obrigado.
Abraço.

Catsone disse...

Johnny, um baú a rebentar :D

Balhau disse...

Sem pena e sem compaixão devo-te dizer que está um profundo e interessante texto de reflexão. Profundo porque, aparentemente, bateste no fundo, texto porque foi escrito e de reflexão porque com a luz da secretária aparecem uns reflexos no monitor. Mas falando de forma mais descontraída devo ainda acrescentar que o texto prima dessas mesmas características por um par de razões diferentes. É um texto profundo porque trás consigo uma carga emocional, afectiva bastante forte. É profundo porque é transversal. Um problema que nasce num mundo governado por gestores cuja especialidade é gerir. Um mundo onde a semântica dos números é removida e o quotidiano se resume a uma aritmética vazia, precisa mas não exacta. É um texto de reflexão. Profunda reflexão. Obriga-nos a um reavaliar muito abrangente do funcionamento estrutural da sociedade das diretrizes, dos interesses imiscuídos em interesse público. Uma reflexão que nos leva incondicionalmente à conclusão de que nada mais somos que um peão. Um ponto num oceano onde as correntes não são bem definidas, onde a encosta está longe e o farol não pisca. É um texto pessoal. Teu. Mas um texto que podia ser meu. Universal. Congratulo-te por este breve momento de reflexão e partilho contigo uma análise paralela. Paradoxalmente estas desilusões que encontramos, se é que partilhas desta opinião, fortalece a nossa determinação. E a gente sabe que é muito mais fácil ir ao sabor da corrente. Mas não consegue resistir ao vento que nos puxa a vela...