15 outubro 2011

Vontade de abalar

No seguimento de mais um roubo, mais cortes finos e dementes, cresce a vontade de abalar. Enquanto não decido para onde deserto, vou sonhando com Parságada.



Vou-me Embora pra Pasárgada


Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

4 comentários:

Sahaisis disse...

até eu, até eu pondero dar de frosques :s

Catsone disse...

Pois, é triste. Quero ver quem fica a tomar conta dos nossos doentes e idosos...

Cirrus disse...

Não vás! Precisamos de gente com capacidades! Não vás, isto não vai durar sempre!

Catsone disse...

Cirrus, amigo, tens razão nas duas ideias: Portugal precisa de gente capacitada e isto não durará para sempre mas eu preciso do presente para garantir o futuro dos meus. Portugal não parece poder oferecer as virtudes e os valores que quero incutir nos meus filhos, infelizmente. E isso dói um bocado...