É Carnaval.
Minha filha caminha pela sala com uma fantasia que a mãe lhe comprou: Alice.
Alice caiu no país das maravilhas; assim caí eu ao vê-la. Fui transportado pela sua inocência, em conjunto com o fim-de-semana, para o seu país.
No país da minha filha “Alice” não existe pressão, não existe desemprego, a comida vem ter à mão, o banho vem acompanhado por carinho, é-se limpo, mimado, amado e posto a dormir ao som de um “boa noite” meloso e verdadeiro. No seu país, todos sorriem à sua passagem, riem-se às suas tentativas de articular as palavras ou da sua forma engraçada de andar. No seu país ela é o centro do universo.
Tive inveja, por segundos, ao vê-la correr sorridente pela casa, segurando qualquer brinquedo na mão, cheia de esperança e vivacidade. Inveja pela ignorância do que o mundo realmente é: pouco maravilhoso. Viver assim, no desconhecimento do que nos rodeia, deve ser muito bom. Tudo é descoberta, tudo é realmente fantástico e maravilhoso, mesmo que a aprendizagem inclua algumas quedas e outras dores esporádicas. É pena que são, exactamente estes, os anos dos quais nos esquecemos.
Gostava de mantê-la assim: escondida do mundo real. Mantê-la no seu mundo inocente onde os gatos falam e as cartas não se jogam a dinheiro. Gostava de a manter nessa utopia da infância, protegê-la dos monstros, dos mentirosos, dos políticos, dos religiosos. Gostava de a escusar da violência que abunda pelo mundo. Gostava escondê-la deste pai actual: triste, desanimado e preocupado com o seu futuro e do seu(sua) irmão(ã) que ainda está para chegar.
Até terça-feira é Carnaval. Nada se leva a mal. Vou manter-me a aproveitar do mundo maravilhoso da minha filha “Alice”, aquele farto em riso, pureza e paz. Vou beber dessa esperança doce que ela traz no abraço. Vou descansar minha cabeça no seu colo e sorver todos os seus “miminhos acelerados”. Vou comunicar no seu idioma ininteligível (para alguns). Vou ver bonecos na televisão e cantar canções tolas. Vou ser feliz. Vou ser o seu “Cheschire Cat”.
Vou "orar" para que o tempo passe devagar e que não encontre o túnel de volta ao mundo pouco maravilhoso.
Também para o desafio "violência" (mas não muita, que já estamos a ficar fartos) para a "Fábrica de Letras":
7 comentários:
E ainda achas estranho eu ter perdido a "spark"...venho aqui e leio um pai "sparkless".
Tu ´tá maluco?!
Eu que esta noite vivi de (demasiado perto) a angústia de uma mãe ocorre-me dizer que nem que se queira muito os poderemos guardar e proteger para sempre. Mas estou em crer que vocês, pais, o tentarão sempre, e que maravilhoso isso é. Parabéns por esta narração da tua Alice e dos teus desejos de pai.
São tão legítimas as tuas preocupações de Pai...
Se todos pensassem assim, haveria mais Alices, nesse país de maravilhas.
Tão enternecedor...! O mundo pode ser essas coisas todas e até muito pior, mas enquanto os pequenotes tiverem um pai assim, que mesmo preocupado continua a saber vestir a pele do gato maluco, estarão sempre protegidos dos males e das dores! Talvez não de todos, mas dos piores...
A nós pais (e mães também) compete-nos proteger os nossos rebentos de tudo aquilo que os possa de alguma forma prejudicar, mas acima de tudo, compete-nos também explicar-lhes como o mundo é, como podem existir coisas más. Compete-nos acima de tudo prepará-los para a vida, para que aprendam a viver e a defender-se, pois só assim estão aptos a enfrentar as dificuldades e a ultrapassar os obstáculos que a vida lhes coloca no caminho.
Não podemos por isso baixar os braços, e tê-los sempre à mão para que eles se possam apoiar quando precisarem.
MA-S, por vezes (mais vezes do que queria) sou maluco.
Sahaisis, vi que escreveste um texto enorme mas que ainda não tive oportunidade de ler.
Pinguim, nós iniciamos a vida tão puros, é culpa nossa essa alteração da alma. É inerente e impossível de inevitável. Cabe a nós tentar minorar os "estragos".
Briseis, eu gosto pouco de gatos mas muito de malucos ;)
Utópico, vê lá que o que escrevi é tb uma utopia. Obviamente que os devemos preparar para a "batalha" no mundo real, mas não custa nada sonhar...
Preocupar não ajuda. É educar bem e esperar que tudo corra pelo melhor.
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