Em 1994, minha família regressou do Brasil. Tinha eu 18 anos e, no auge das hormonas, não encaixei esse regresso da melhor forma.
Ora vejamos, um fulano, com a liberdade proporcionada por uma carta de condução fresquinha, numa cidade com cerca de 20 milhões de habitantes (incluindo muitas "brasileiras", vejam bem!), onde existe de tudo à mão, não pode encarar muito bem a permuta para uma pachorrenta aldeia com 500 moradores (incluindo muitas idosas portuguesas tradicionais, bigode abrangido).
Em casa dos meus pais foi um pandemónio. Foi uma época de revolta intensa mas oprimida pela dependência (financeira e afins) dos pais.
A coisa serenou um pouco depois que o meu pai adquiriu um popó. Na altura, havia sido lançado no mercado o novo Seat Ibiza. Naquele tempo, era uma opção interessante: motor e materiais semelhantes aos VW a um preço mais acessível. O carro era bonitinho e, o melhor, ainda não estava associado ao "azeituning".
Esse carro passou a ser o carro da família e foi nosso durante anos a fio.
Nele, vivi aventuras extraordinárias. Foi meu companheiro em Coimbra, durante o curso. Foi minha sala, quarto e biblioteca em muitas ocasiões. Foi meu estúdio durante as viagens. Foi meu confessionário. Soube muito dos meus segredos e guardou-os com ele.
Foi um amigo especial e com ele fui criando novas memórias que, embora não apagasse as que tinha, foi diminuindo a minha "raiva" pela deslocação para cá.
Hoje, como escrevi num post anterior, adoro o Brasil, mas amo Portugal, e ele teve participação nessa metamorfose interior.
Vinha eu, noutro dia, no meu novo Seat Ibiza (ficamos fãs da marca, fazer o quê?), quando, mesmo à minha frente, revejo o meu amigo de 4 rodas.
Estava ali, tal e qual o tinha visto pela última vez.
Confesso que me senti traído. Quase como um filme porno, acusei-o de se ter entregue a outro alguém; de se ter deixado penetrar por outro...
Por kms, o meu velho companheiro, arrepiou caminho à minha frente. Senti uma nostalgia enorme e ele pareceu confessar-me os meus próprios segredos e pecados. Lembrei-me dos beijos dados ao som do seu rádio, das noites de maluqueira dos sábados, dos dias inteiros a estudar no seu interior, das idas à praia. E ele a lembrar-me que nunca me deixara na mão.
Por fim, o seu "amante" põem o pisca para a direita e o meu ex vai-se embora.
E posso vos jurar que senti que, aquele sinal de pisca-pisca, foi uma espécie de: "se eu pudesse falar o que sei..."
Deixo-vos com esta bela obra lírica que me recordou o título deste post:
12 comentários:
LOLOLOL!!! Epah... Estava quase a ficar comovido, até chegar à Rute... Depois, a comoção passou a dor de barriga! E ainda te queixas da foto do maradão??? Um ecrã cuspido não é nada, perante uma cólica (cerebral, abdominal) destas!!! :D
Também sou fã de Ibizas, de preferências 110. O meu ainda anda... demais. E sim, muitas recordações, é verdade, mas se calhar não do mesmo género...
;)
Boa noite! Fizeste-me lembrar do meu velhinho Nissan Stanza, que foi meu companheiro em tantas aventuras parecidas com as que relatas...
Agora nao me venhas com tretas que foi a rute que te fez recordar o Ibiza, pela tua saude!
Nao me acredito que estivesses a ouvir essa coisa. Pisca-pisca?! Pelo menos se ouvisses a outra faixa, "Xupa-xupa no dedo" eh eh eh
Abracos
isto foi demasiado intenso para mim...fiquei comovida..tirando a parte do pisca pisca...lol ;) quanto ao censo é simples: pelo nome próprio, não sou bicho para ser chamada de outras coisas...
Ainda bem que não podem falar... se o Corsa que me deram aos 18 anos pudesse falar, tinha de contratar um sniper para dar cabo dele. =|
E viva a mulher de bigode!!! Esse espécime em vias de extinção...
\o/
toda eu fiquei comovida com o post!
chorei e chorei e chorei...quando chegou à rute marlene, chorei...chorei...chorei...
Já agr: porquê WTF???
Grave, a Rute promove grande comoção, eu sei...
Cirrus, eu gosto bastante do que tenho agora (130 cv e um burro). Anda muito e come pouco, o que ser quer, portanto.
Francisco, Bom dia. O nome do post é que me lembrou essa saudosa melodia :P No meu pc já há lixo suficiente, não dava para ter a Rute.
Sahaisis, todos têm lembranças de um automóvel qq, certo?
MA-S, lol, acredito que tenhas chorado, pois.
Sim, tens razão,quer dizer, na minha familia é mais barcos, um em particular na verdade...o fetish dos carros ainda não me deu...lol
Pois, se os automóveis falassem...
Uma coisa é certa: automóvel meu nunca sintonizou nenhuma música da Rute Marléne...
Sahaisis, lá em casa só memórias que envolvam carros. Barcos, só gaivotas...
Pinguim, acho que os meus carros cuspiam-me do volante se sintonizasse alguma música desta moçoila.
Gostei de ler. O meu Peugot 306 também me serviu lealmente. RIP.
Pulha, tb gosto de Peugeot's ;)
Abraço
Enviar um comentário