"FIFA quer proibir manifestações de fé" in Record
Sempre ouvi falar em ditaduras, em perseguições ideológicas, em escravidão. A ditadura portuguesa pelo regime de Oliveira Salazar foi uma das mais longas ditaduras existentes, mas existe uma ainda mais longa e que está aí para durar: a FIFA.
No futebol é proibido quase tudo. São proibidos os adornos, determinadas comemorações em campo, falar mal da própria FIFA, etc, etc.
O futebol é o desporto colectivo que menos evolui em termos de regras. É inacreditável a intransigência desses engravatados no que toca à alteração de regras que não se coadunam com o futebol moderno. Tudo tem que ser como a FIFA quer.
A FIFA comanda um dos negócios mais lucrativos do mundo e não tem concorrência, ela põe e dispõe do jogo a seu belo prazer. Se alguém reclamar terá que arcar com as consequências.
O mentor desta FIFA moderna, cheia de arrogância e poder, foi, ironicamente, um brasileiro. Um branco de olhos azuis, que nunca deve ter chutado uma bola, o Sr. João Havelange. Foi ele o responsável pela explosão publicitária do futebol e reclama para si os louros da expansão do jogo aos 4 cantos do mundo. Realmente ele tem razão. A FIFA, sobre o seu comando, tornou-se numa super-empresa, capaz de impor as mais idiotas regras para favorecer a companhia. Eles são arbitros-FIFA, competições da FIFA, boards da FIFA, mas o mais extraordinário e o mais demonstrativo da faceta comercial da organização é a personagem agente-FIFA.
Por ter transformado o futebol no que é, o Sr. Jõao, que é brasileiro, não é adorado no Brasil, muito pelo contrário. E ele deixou lá semente, Joseph Blatter, e o ciclo perpetua-se.
Eu cresci num lugar onde qualquer pedaço de terra, qualquer baldio, servia para jogar futebol. Uma bola feita de trapos dava para ocupar um grupo de crianças durante horas. Um golo era um ansiolítico maravilhoso, uma droga que impelia a voltar no outro dia. Cresci a ver craques nascerem nesses campos de terra vermelha e poeirenta.
Esses mesmos meninos-craques são hoje convertidos em pedaços de carne duma montra. São comprados para trabalhar; profissão: jogador de futebol. O sorriso que outrora traziam é amputado pelo desejo multimilionário de empresários, clubes, associações continentais e FIFA.
Quando crianças jogavam descalços, agora não podem tirar a camisa aquando do golo, sob o risco de serem expulsos do campo.
Em jovens saía-lhes o pior credo pela boca, agora não podem se manifestar contra o poder instituído ou são penalizados.
Não podem se revoltar quando perante uma injustiça ou...
Tudo já era demais, agora não poder também agradecer a algo em que acreditam? A FIFA é uma Cuba mundial? Isso não vai contra a maioria das constituições nacionais? Proibir a fé de cada um, onde já se viu?
E a FIFA bem pode agradecer à religiosidade mundial pois é um verdadeiro MILAGRE o futebol ainda ter tantos adeptos.
À FIFA fica um dos maiores clichés futebolísticos: "O futebol é uma religião", e agora?
3 comentários:
Belissimo texto. E a fifa é uma fifia pegada, considerando que todas as modalidades já evoluiram e esta fica a ver. No fundo o que lhes interessa é o que eles facturam
Nada mais a acrescentar, concordo plenamente com tudo o que dizes.
E não é seguramente devido a essa FIFAntochada que o desporto rei tem tantos adeptos... Deve-se precisamente a essa magia invisível, dos putos descalços que se entretinham durante horas com uma bola de trapos... Se pensarmos bem, qual a lógica disso, especialmente nos dias que correm? Não existe, mas o sonho continua a comandar a vida, e nem todos são madeirenses idiotas pseudo-ricos em busca de fama e glamour por terras espanholas, é preciso que se acredite nisso...
muito bem dito, melhor...escrito ;)
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