Estranho país este Allgarve.
Eu adoro minha profissão. Ser o que sou foi sonho infantil concretizado. Mas existe um local no qual me sinto mal, por vezes, em ser médico. Esse lugar, que me desperta esse diminuto arrependimento, é a praia.
Nunca gostei muito de ir à praia. Muita areia, água fria, sol abrasador, constituem ingredientes de uma receita que não me agrada muito. Mas acabo por ir por não depender só de mim. Para além disso, deve ser somado o facto de a minha tez ser cândida como a neve e, após alguns minutos de exposição solar, mesmo às 7 da manhã, ficar vermelha como uma malagueta.
Mesmo assim, com todos os estes inconvenientes, vou. No entanto, gostava de ir à praia sem me preocupar com a saúde dos outros e é aí que "sofro". Tento "impingir", aos que me acompanham, as regras para uma segura utilização praieira. O problema é que não posso fazer o mesmo aos outros milhares que me avizinham.
Se pudesse escolher uma palavra, para utilizar como sinónimo de praia, escolhia "banha". Toneladas de banha é o que se vê a pavonear-se nas margens do Atlântico. Não tenho nada contra as pessoas obesas, absolutamente nada. Acho espectacular que assumam o corpo que têm e é sinal de que estão bem com eles próprios. Volto a repetir que o problema é meu. Fico com comichão quando vejo uma rapariguita de 8 anos com a barriga a tentar escapar por todas as frestas do biquini ou "maiô". Fico a calcular IMC's e anos de vida aos senhores de meia-idade que mal conseguem ver os próprios pés (já para não falar do "amigo).
Causa-me impressão pessoas claras como eu a tostarem-se na areia, sem qualquer tipo de protecção à excepção duma fé do caraças. São esses que permitem que as crianças brinquem à torreira e são esses que chegam ao meio-dia à praia.
São esses que me causam arrepios neste calor infernal. São esses que enfardam o que querem de Setembro a Maio, que em Junho entram nos ginásios e fazem dietas tibetanas para estarem IM-PE-CÁ-VEIS em Agosto. São esses que fazem as pegadas mais profundas nas areias da praia e não sabem porquê. São os que dão lucro aos homens das bolas de Berlim.
Pensei nisso a manhã toda, enquanto ouvia o MP3 na areia. Pensei que o mundo não pode ser perfeito, mas que também não necessitava de tanta imperfeição (física e...).
Às 11h saí da praia, metido nestes meus pensamentos utópicos, e vi um senhor com grandes dificuldades em estacionar o carro, mesmo à "boca" do caminho que leva os veraneantes à praia. Ainda estiva para lhe dizer que, com um pouco de esforço, poderia estacionar no areal, afinal os nadadores-salvadores nem tinham muito trabalho hoje.
2 comentários:
Hoje estava na praia e ainda antes de ter sequer lido este post estava precisamente a pensar o mesmo. Que 90% das pessoas que lá estão têm excesso de peso. Mas isso nem me faz espécie nenhuma. O que me tem deixado em pânico é mesmo a mania de chegar ao 12h e sair da praia às 16h, será que têm a informação trocada?
De resto até eu já fui, devaneios de adolescente, de ficar horas ao sol para ficar preta mas agora nem consigo sequer estar ao sol. Dá-me os calores que não aguento e depois de por protector parece-me que aquilo só dura cinco minutos e tenho que ir para a sombra. Para adicionar a isso, depois de ver tanta gente a sofrer com a doença do novo milénio, os 'cancaros' (como diria a minha avó) os raios solares soam-me cada vez mais como arma mortífera do que como alegria.
Ora aí está uma opinião pela qual sou absolutamente solidário. Também pelos motivos óbvios (defeito profissional), concordo em absoluto. Nem tanto pela calamidade chamada obesidade, mas mais pela irresponsabilidade dos horários trocados de fazer praia. Quem vai comigo e assiste, sabe que só me apetecia esmurraçar quem vai em sentido contrário. Já estou como outra comentadora: "será que têm a informação trocada"?... ou é mais uma forma de devaneio de novoriquismo? Para mim, é imbecilidade no caso dos adultos, e homicídio infantil no caso das crianças que para lá são levadas a essas horas. ARREPIANTE!!!!!
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