27 agosto 2012

Pai sofre XXVI: Férias em família ≠ de descanso

Quando se é solteiro ou quando, em casal, não se tem filhos, a malta vai de férias para descansar. Vai para a praia, “trabalha pró bronze”, mira as meninas em trajes (cada vez mais) pequenos, bebe uma mini na esplanada acompanhados de um pires de mariscos do Eusébio e vai tateando, aqui ou ali, peixes-aranha que calmamente adornam o fundo do mar gelado da nossa costa.

Essa malta “desgraçada” e despreocupada faz viagens de 3 horas bem andadas entre o Porto e o “Allgarve”, sem verdadeiras necessidades de parar em estações de serviço, viajam com o ar condicionado ligado no máximo e a ouvir a música que lhes apetece no volume que lhes dá na telha. Chegados ao “Marrocos lusitano”, o people abanca em casa, come qualquer coisa regada com um vinho rosé bem fresquinho e vai para o areal, sem guarda-sol, equipados com toalha e protector solar factor 12, às 3 da tarde. Levam um conjunto de entretenimento composto apenas por bola + raquetes + baralho de cartas. Ficam por lá, ora deitados, ora a jogar, ora dentro d’água, até, pelo menos, às 8 da noite, dependendo apenas da vontade e da metereologia. 

Cambada de filhos da mãe! 

Não é que eu seja invejoso, longe de mim, mas são uns ignorantes, esses tipos! 
Ignoram que, com crianças, a viagem demora o dobro do tempo e vai se conhecendo as pitorescas decorações das casas-de-banho das autoestradas. Ignoram que se deve ter uma temperatura amena na viatura e que as escolhas musicais estão feitas antes do carro arrancar e não vão além daquele cd infantil que a cria já canta com grande à vontade, tal o número de "repeats". Ignoram que a palavra “esplanada” deixou, subitamente, de constar no dicionário e que “minis” se refere aos ditadores cá de casa. Quanto à arte de “ir à praia”, eles ignoram que se tem de acordar às 8 da matina (sim, essa hora existe, mesmo em Agosto) para apanhar o tempo mais fresquinho mas que só às 9:30 se está mesmo pronto para arrancar. Ignoram que, ao chegar à praia, se tem de descarregar tudo o que a mala pôde transportar, mais a mulher e as crianças, e depois andar à procura de lugar para estacionar a carroça, lugar esse que dista, quase sempre, entre 5 a 10 minutos do areal. Ignoram que o material de veraneio deve incluir uma mala com toalhas, fraldas (do mais pequeno), conjuntos de roupa, garrafas e biberões d’água, mais uma outra sacola que albergue moinhos, pás, baldes, figuras alusivas a moluscos ou artrópodes marinhos entre outros entretenimentos infantis e que, no seu conjunto, pesam sempre uma tonelada cada (produto do peso real pelo calor abrasador que já se faz sentir). Ignoram que as toalhas dos adultos não servem para descanso já que se passa pouco tempo lá deitado. Ignoram a vida para além do factor 12 de protecção solar e a existência da arte do “besuntar” dos pupilos até que fiquem brancos "albino-like". Ignoram que a maltinha só pode ir à água acoplados à nossa mão e sob a protecção de uma camisola e de um “sombrero” mexicano. Ignoram que parece existir uma estranha atracção entre a areia e a boca de um bebé. Ignoram que a praia deve ser o único lugar onde “filho” não traz sex appeal. Ignoram que às 11 horas da manhã são horas em que se devia sair da praia. Ignoram que pedir aos pimpolhos para que não sujem o carro com areia é uma utopia. Ignoram que apenas se pode voltar à praia às 5:30 da tarde para que tudo recomece… e tudo isso obedecendo à tirana vontade dos pequenitos. 

No entanto, às 5:30 da tarde, sob um tempo mais ameno e uma maré mais baixa, quando brinco com os miúdos a fazer castelos de areia ou corro atrás da mais velha enquanto esta ri como uma desalmada na esperança vã de que não a alcance; e molho os seus pequenos pés à beira mar e os seus cabelos com um balde cheio d’água acabada de “colher”; e caminho ao lado do pequeno que cambaleia sobre a areia fresca mais a sua fralda inchada da água salgada ao mesmo tempo que aponta para uma gaivota mais atrevida que pousa mesmo a 2 metros de nós; e sento com os dois mais a mamã, com os corpos a colar, salgados e cheios de areia, a observar um pôr-do-sol vermelho do verão, lá bem longe no horizonte, com a sonoplastia da mãe natureza, qual dj, rodopiando doces ondas numa praia agora mais calma; acabo por pensar que, afinal, e apesar da tremenda canseira que tudo isso acarreta, os que vivem na ignorância não sabem o que perdem. 


 Alvor

16 comentários:

Rain disse...

Que pôr-do-sol lindo! E apesar de ter compreendido perfeitamente a mensagem final, eu prefiro ir para a praia às 11h, protector 6, dormir e voltar para casa uma hora depois lol

Ainda bem que cada um se diverte como quer! ;)
E adorei passar aquelas tardes convosco, a rir é que a gente se entende!

Só um pequeno reparo: no penúltimo parágrafo é "recomece".

El Matador disse...

eu cá levo 20 minutos a chegar à praia e no inverno nem isso, mas simpatizo com as tuas dores, eheh.

Inês _ m7+ disse...

Como te compreendo... e logo na praia do Alvor:)

Sara non c'e disse...

Que texto fantástico. Fez-me dar uma gargalhada e sorrir no final (e sofrer em solidariedade ao pensar num CD nos teletubbies a rodar infinitamente no carro, em vez das guitarradas habituais).
Espero um dia compreender verdadeiramente este post :)

Sahaisis disse...

O Alvor é a minha praia. Com e sem crianças ;)

Cirrus disse...

Não compreendo o post. Mas tu compreendes.

mz disse...

A vida é um ciclo e, este quadro familiar repete-se. Um dia, chegará a vez dos que não entendem os horários, a azáfama com os pequenitos e esperemos que também eles saibam dar valor aos pequenos pormenores do pôr do sol ao fim do dia.

Eu também já passei por isso :)

Boas férias!

Giancarlo disse...

Felice giornata a te...ciao

Catsone disse...

Rain, conhecendo-te como te conheço, eu também te compreendo ;D
O erro foi de propósito, cof, cof... era para ver se estavas atenta, lol

Matador, não sei se te invejo, amigo: morar perto da praia deve ser um inferno em Agosto.

Inês, pareceu-me que também estiveste por lá.

Sara, os teletubbies sempre foram proibidos por cá; os pimpolhos gostam das canções da Maria (Maria de Vasconcelos) e da Xana Toc Toc :S

Sahaisis, este ano fomos mais tarde que o costume e estava cheio para caraças. Prefiro em Julho.

Cirrus, faz lá um esforço, vá!

Mz, e quando os que ignoram passarem por isso já os meus estão independentes e passo eu a ignorar ;D

Giancarlo, são sempre bons desde que estejamos de férias ;D Ciao

Pulha Garcia disse...

Alvor é a minha praia preferida no Algarve. Quando passares no Restinga manda um abraço ao Filipe Esteves (amigo pessoal e do blog).

Catsone disse...

Amigo Pulha, infelizmente Alvor, para mim, só para o próximo ano (e aí vou dar o tal recado que falas).

Briseis disse...

oh... que delícia de texto... apesar de todos os males e as dores, ainda bem que consegues viver o melhor... e ainda guardas paciência para no-lo relatar!

Nane disse...

É tão bom não ser ignorante!!

Catsone disse...

Briseis, gracias. E mesmo com tantas palavras não chega sequer a tocar a realidade.

Nane, pois é, sim senhora.

Demian disse...

Cada vez menos tenho vontade de experimentar outra vida que não a de solteiro... Por mais apelativos que sejam todos os teus escritos sobre as delícias da vida em família... :)

Catsone disse...

Belial, não precisas de ser casado, certo? ;)