17 setembro 2011

Pai sofre XXIII: remédio

Sexta-feira. Mais uma semana de intenso trabalho terminou.

Cheguei à casa estafado. Vinha chateado com a vida e com um trabalho que cada vez mais me desaponta. Estudar uma vida toda para fazer algo que está há milhas de distância leva a um sentimento de frustração e impotência que nunca havia experimentado. Reclamações, exigências desmesuradas e excesso de direitos atiram-me para um lugar ao qual não estou acostumado. Cansa-me muito tentar ser justo e honesto. Seria mais fácil ceder às vontades e vícios e essa insistência, em fazer o que meus pais ensinaram, estafa-me.
Liguei a televisão. Vi buracos, miséria, guerras, corrupção e o Vítor Pereira no telejornal. Nada me interessa, nada me tira o gosto amargo de 5 dias de decepções.
Começo a ficar preocupado com a gota no canto do olho, a insónia e a falta de apetites...

Ela chegou. Os olhos enormes e vivaços miraram-me, as pernas aceleraram, os braços abriram-se num grande pequeno abraço e a língua, no início da afinação, estala um grande "É o pai!" na minha triste face.
E puff!... tudo o resto deixou de ter qualquer importância.

Amor: está aqui um remédio que tenho de começar a prescrever mais vezes...


5 comentários:

Demian disse...

E puff... Assim se escreve com o coração, e se atiça nos jovens aspirantes a pais, uma vontade enorme de procriar. Colocar num mundo de merda, alguém que nos faça relativizar, a merda de mundo em que vivemos...

Irónico, pois claro... É inevitável.

Abraço

Sahaisis disse...

Gostava de ter algo para dizer que aplacasse esse teu sentimento de frustração e essa desilusão que escreves e que acredito profundamente não ser infundada. Mas suponho que nada que eu diga se compara ao gesto da tua pequena. ;)

Catsone disse...

Demo, muitas vezes penso que posso ser acusado, um dia, de os por neste mundo. Mas, quem sabe, podem vir a ser bons Homens para esta sociedade...

Sahaisis, caríssima, este sentimento vai-me empurrar para fora do SNS (e quem sabe do país) mais cedo ou mais tarde. Salva-me essas doses diárias de carinho :)

Pseudo disse...

Catsone, são eles que nos enchem o coração e esvaziam a carteira. Mas vale MUITO a pena! Já nem imagino o vazio que sentiria se não tivesse o meu.

Catsone disse...

Pseudo, não quero imaginar ficar sem qq um dos meus. Até ser pai pensava eu ter medos; depois vi o que é realmente ter medo de algo...