Contingências da vida obrigam-me a estar longe de casa durante quase toda a semana.
Estar longe da família é deveras difícil e o tempo vai rastejando ao passo de caracol.
E a saudade aparece.
Nestes últimos tempos tenho pensado e escrito muito sobre essa coisa da saudade. Já a tinha conhecido antes mas, agora, apareceu mais alta e forte e vai irrompendo, inadvertidamente, de vez em quando, pelo meu frio quarto adentro.
Ela faz-me lembrar dos tempos bons passados com a minha "árvore de louros". Lembra-me dos seus sorrisos e palreios e lembra-me, também, que ainda falta algum tempo para poder voltar a vê-la.
Estar sozinho nesta fase não está com nada. Perder pequenos avanços de uma nova vida é uma lástima. E a saudade vai crescendo e ocupando cada vez mais espaço neste quarto escuro. Vai comprimindo os meus sacos lacrimais até que ofereçam o conteúdo à minha face tristonha. E as gotas vão escorrendo pela cara e dando mais espaço à obesa saudade.
As lágrimas, de unitárias, passam a conjunto, num contínuo riacho salgado. Chegam ao coração, arrefecendo-o. Sente-se o gosto amargo na garganta e o nó no estômago aperta-se.
A saudade, então, vira dor. Uma moinha que não vai embora, voltando em surtos e remissões. Não há analgésicos para esta dor, é dor de viciado em algo ou alguém. E como viciado, a abstinência cobra dividendos.
Neste momento, reduzo-me a algo sufocado por um sentimento que está fora de controlo e procuro algum consolo. Procuro a minha dose diária de filha.
Ligo o computador que, com o frio polar do quarto, reluta em arrancar. Mas enfim mostra-me a imagem da minha menina a sorrir. É como um sol que aquele o quarto e derrete a saudade. Enche-me de energia e devolve a vontade de viver mais uns tempos até voltar a sentir a minha "droga" novamente nos braços.
E a saudade é expulsa, vai dar uma volta... pelo menos por uns tempos.
7 comentários:
Coragem, my friend.
É pensar apenas que o momento de a teres de novo nos braços vai chegar em breve, esquece o relógio e ocupa a mente com coisas positivas, pode não resolver, mas ajuda.
Abraço
Tks, Grave.
Já nem trago relógio...
Abraço e obrigado pela força!
Amas e és amado...a saudade é terrível mas as tuas mulheres não te vão fugir...força...e volta para elas rápido ;)
P.S: Os nossos posts cruzam-se de facto...e achei curioso o poema...fez-me sentido ;)
Compreendo-te perfeitamente... mas ao contrário de ti, eu, não tenho a expectativa de a matar de vez em quando... e isso, my friend, é a pior dor possível. Beijo
Que hei-de eu dizer...
Mas há a consolação de que a saudade só existe porque pressupõe a felicidade...
Abraço.
Sahaisis, não vão fugir, não, lol
Eva, tens razão, :(
Pinguim, parafraseando o meu comentário acima, "tens razão" :D
"Procuro a minha dose diária de filha." das coisas mais bonitas que tenho lido.
Estar separado por um tempo pode ser uma arma para fortalecer uma relação. Utiliza-a teu favor e passa os valores que interessam à tua filha.
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