13 outubro 2009

Quem qué metê na Maitê?

Eu vivi no Brasil 16 dos meus 34 anos. Em S. Paulo, sendo tuga, "sofri" com as anedotas de português que os brazucas contam. Sempre tive fair-play, até porque acho ser salutar sabermos rir de nós próprios, mas confesso que, algumas vezes, senti-me ofendido.
Talvez contassem estas anedotas como forma de compensar o facto de os portugueses, no Brasil, serem pessoas de sucesso. Meu pai, que saiu daqui com uma mão à frente e outra atrás, nunca foi funcionário de ninguém e, embora não tenha ficado rico, posso dizer que saiu-se muito bem em terras de Vera Cruz. Aliás, meu pai tinha tanto fair-play que, após ouvir uma anedota de português, contava outra, ele próprio, logo a seguir. Ao ouvir a anedota que o meu pai contava, os outros engraçadinhos não achavam piada nenhuma já que não tinham atingido o objectivo primário: a ofensa.
Mas também é justo que eu diga que adoro o Brasil e suas gentes. São pessoas alegres, simpáticas e sofridas, que merecem o meu inteiro respeito. Gosto da cultura brasileira que nada mais é que uma mescla de inúmeras outras e que no fim revela um degradée extraordinário. Eles tem Niemeyer, Pitamgui, Machado de Assis, Tom Jobim, Vinícius, Fernanda Montenegro, Elis Regina, etc, etc...
Mas o Brasil também tem Maite's. Inúmeras figuras como esta pseudo-artísta. Nós vamos comendo (alguns literalmente) estas artes todas: novelas, teatro, música, cinema, entre outras. Embora façamos muitas coisas interessantes, parece que o que vem de lá é melhor, mais elaborado e profissional. Mas nós temos o fado, a revista, o Rui Veloso, a Dulce Pontes, o Vasco Santana e até a Amália. Não aceito que o que vem do Brasil é sempre melhor, para mim é apenas diferente.
Quando vi o vídeo desta pseudo-artista fui atingido pela fúria e da minha boca saiu um floreado de bonitos adjectivos (a maioria não reproduzíveis aqui). Aceito que se façam caricaturas de traços da personalidade de um povo, mas não admito que se cuspa em monumentos, que se estereotipem as pessoas e que se "caguem-a-rir" de algo que é, no mínimo, digno de lástima. A fúria foi um primeiro impulso de quem não tem sangue de barata, mas logo a seguir senti pena. Vi uma completa idiota a tentar ser engraçada e que revelou uma incomensurável ignorância em relação a Portugal (Salazar no poder 20 anos? Confundir o Tejo com o mar?). Quem conhece este programa sabe que se trata de um conjunto de 5/6 gajas mal fod#$", com intelectualices, que disparam escárnio e conversa da treta para todos os lados. Eu nem devia perder tempo com isso, mas que se lixe, eu quero!
À Maitê (se isso é nome de gente...) digo que fica muito melhor "peladona" na capa da playboy; reserve-se para isso enquanto pode já que a idade vai dando sinais e o photoshop não faz milagres dessa ordem de grandeza, além de que não vejo mais nenhum talento na sua pessoa. Não ofenda José de Alencar, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Castro Alves: não tente escrever. Não ofenda também Paulo Autran, Lima Duarte, Regina Duarte: não represente. Não ofenda Renato Aragão, Chico Anísio, Bussunda: não tente ser engraçada. E guarde, também, o trabalho de repórter a quem sabe o que faz, quem respeita a cultura e a história de um povo e que não tem problemas em conter a saliva na própria boca. Se cospe em público o que será que faz em casa? Fico desiludido "because you don't swallow".
No Brasil, sendo imigrante, até aceitaria estas piadas de muito mau gosto, mas aqui, na minha "terrinha"? Isso é que era bom!

14 comentários:

Sahaisis disse...

acabei de ver o belo vídeo...fiquei com a sensação que a estúpida da mulher estava tão só e apenas muito pedrada para fazer aquilo...

Demian disse...

Não vi o vídeo, pois não tenho paxorra para tal, mas pela descrição, e pelo que já havia lido noutro lado, concordo a 100% com tudo o que dizes, não acrescentaria um ponto!

De notar que o povo brasileiro, regra geral, adora armar-se em coitadinho, pois "foram roubados pelos portugueses" (palavras de uma advogada brasileira minha conhecida), socorrendo-se de gente como esta para fazer passar a ideia que têm de nós, e isso, por si só, mete-me nojo.
Sem desprimor, pois acredito que haja por aí muita boa gente, entre os brasileiros, que decerto se demarcam destas perspectivas, mas se fores lá e os confrontares com as palavras da tal pseudo-artista do vídeo, verás que a maioria concorda e as apoia, disso não tenho grandes dúvidas.

(Terminaria com uma alusão a certas e determinadas representantes do Brasil que não seriam capazes de desiludir ninguém pelo facto de "não engolirem"... Mas seria ir longe demais. Não o farei.) xD

(E NÃO, NÃO TENHO NADA CONTRA BRASILEIROS, ESCUSAM DE VIR DISPARAR QUE SOU XENÓFOBO E BLA BLA BLA... Eu nem sequer tenho conta no BES!)

:D

Catsone disse...

Sahaisis, olha que se ela não estivesse pedrada bem que merecia uma: bem no meio dos olhos!

Grave: já defendi muito o Brasil, por gostar imenso do país, mas deixei de o fazer exactamente pela imagem de "coitadinhos" e que nós somos racistas e coisa e tal. Não somos nós que fazemos piadas sobre eles, certo?
Sobre a tua não alusão aquele facto do "engolir" ... subtilmente fizeste, seu xenófobo! xD

Cirrus disse...

Pfff... Bem me podem vir com xenofobias para cima... De Brasil, hoje em diante, só mesmo jogadores da bola e dentro do campo.
Perdi toda a admiração que tinha por aquele país. E bem me podem chamar racista ou seja o que for.

Por acaso alguém viu a senhora a entrar nos inúmeros bordeis onde as brasileiras "trabalham" em Portugal?

Ela cuspiu numa fonte portuguesa. Cuspir nela era pouco!

Demian disse...

Alto, pára tudo.

http://dn.sapo.pt/inicio/pessoas/interior.aspx?content_id=1390604


:O

(Não, já nada me espanta, especialmente quando se trata de um fantoche da TVI que pseudo-escreve (coitada da Sophia, deve dar voltas na tumba, com a categoria de descendência que deixou) e pseudo-comenta... Mas desta vez foi longe demais. Linchamento público?) xD

Catsone disse...

Cirrus, infelizmente não te posso censurar. Os brasileiros, por mérito próprio, adquiriram uma péssima imagem em Portugal e agora têm que arcar com as consequências.

Grave, como disseste, do MST nada me espanta, apesar dele ser um grande espantalho! Um dos meus 1ºs posts de sempre neste blog foi direccionado a essa espécie de comentador/escritor e não foi muito simpático. E ele tem que defender a moça se quiser fornica-la novamente.

Sahaisis disse...

btw..és bué da cota...muhahah :P

J. Maldonado disse...

Não havia necessidade desta polémica.

1. Intelectuais da nossa praça podem desancar os portugueses à vontade nas suas análises político-sociais e ninguém se indigna. Suspeito que isso se deva ao facto de sermos demasiado iletrados para os percebermos...
Ao fim e ao cabo também usam os mesmos termos da Maitê, só não cospem, pelo menos no sentido literal...

2. A nossa auto-estima é tão baixa que precisamos de fazer dramalhões para que o pior que temos desperte. Aliás, o PNR dá voz a todos os frustrados e ineptos deste país...

3. O pessoal como anda emotivo e com ideias pré-concebidas, tem tendência a esquecer a hermenêutica e a abusar da interpretação extensiva.

Só nos preocupamos com bizantinices e nunca com o essencial. E pior de tudo é que os seguidores do Tony do Vimieiro gostam de se manifestar em comentários de ódio nas caixas de comentários...

Catsone disse...

Olá Maldonado. Conheço o teu blog dos passeios que faço na blogosfera e por isso respeito muito a tua opinião. Seja bem-vindo à esta tasca.

Não havia necessidade desta polémica, tens razão, mas também não havia necessidade da reportagem. Como disse, isto para mim atinge-me de uma forma que só quem viveu no Brasil pode compreender.
Os intelectuais nacionais são menos visíveis que a Maitê, dado que pouca gente liga ao que falam. As pessoas, consumidoras de novelas, prestam mais atenção ao que esta a atriz diz do que ao professor Marcelo. Achas que vão dispensar uma hora de soap para ver "a quadratura do círculo"?
A nossa auto-estima está mesmo em baixo e não precisamos que alguém (provavelmente tb em baixo) venha ainda nos deitar mais abaixo.
Quais ideias pré-concebidas? Acho que percebi perfeitamente onde ela queria chegar. Compreendo que talvez não fosse intenção da senhora maltratar os portugueses, mas os "Manéis" começam a ficar fartos da sobranceria de alguns pseudo-intelectuais brasileiros.

E concordo que tudo isto é fútil e que temos mais com que nos preocupar, mas em tempos de formação de novo governo vamos nos entretendo com isto ;)
Infelizmente, esses Tony's vão tirando a força a quem se sente ofendido de verdade e (quase, quase) dão razão à Maitê.
Fica bem.

J. Maldonado disse...

Compreendo a tua questão pessoal, porém, devemos manter sempre uma certa frieza perante polémicas patrioteiras.

1. Pessoalmente considero mais perigosos os clichés de certos intelectuais do que os da Maitê Proença. Esta é uma tontinha enquanto que aqueles são uns opinion makers com capacidade de veicular ideias pelos Media, as quais poderão ou não influenciar a percepção das massas.

2. As bocas da MP comparadas com as dos franceses e dos sul-africanos são até demasiado leves...

E não me vou alongar, pois já expressei a minha opinião de forma desenvolvida no meu tasco.
Seja como for, é necessário que nós portugueses, perante casos destes, passemos a relevar mais a argumentação e a ironia do que o insulto e o ataque pessoal, como acontece frequentemente no mundo virtual.
Caramba, se os britânicos conseguem ser subtis e irónicos porque é que nós não podemos fazer o mesmo também?!

Catsone disse...

Maldonado, o nós sempre pendemos mais para a brejeirice.
E vi o que "disseste" no teu tasco ;)
Compreendo perfeitamente o que queres dizer e não gosto muito do insulto gratuito, mas não resisti, my bad...
Meus pais tb foram emigrantes em França e lá as divergências com os tugas atingem maiores dimensões, é verdade. Na A. do Sul o tratamento é mais à bala mesmo, lol.
No Brasil, os portugueses tem duas "famas": de burro e de pessoas trabalhadoras (gosto mais da segunda).

Pulha Garcia disse...

Gostei de ler. Desde a história do teu pai até ao princípio de que devemos ter a capacidade de nos rirmos de nós próprios...

Acrescento apenas que a Maitê não representa o povo brasileiro. E ainda que todos temos direito a momentos infelizes...

Catsone disse...

Pulha, se existissem mais mulheres como a MP (beleza, claro) não me vinha embora de lá ;)
A sério, tens razão, a mentalidade dela não representa o povo brasileiro.
No entanto, a mão única de informação faz com que o brasileiro médio desconheça por completo o que Portugal é e se fie no que outras mentes dizem: é isso que me incomoda quando observo o vídeo da Maitê já que, sendo conhecida (e invejada pela sua vida de VIP) pode influenciar o cidadão mediano.

forteifeio disse...

Grande texto este, excepcional.