20 julho 2009

Pai sofre

Domingo. Passado o humor tempestuoso dos últimos dias, arranquei com a minha senhora para o Fórum Coimbra. Ela tinha pensado em comprar coisas para o enxoval do bebé.
Como, futuro, pai interessado que sou, não coloquei qualquer entrave e lá fomos nós para a cidade dos estudantes. Fiz os possíveis para ignorar o facto de ser domingo à tarde e, provavelmente, toda a população do mundo e arredores preencher aquela superfície comercial.
Chegando lá, nos dirigimos à única loja que interessava no momento: pré-natal.
Antes de mais, queria dizer que desconhecia por completo o conteúdo de um enxoval de bebé. Marinheiro de primeira viagem, não fazia ideia das milhentas coisas a adquirir para receber o fruto do pecado. São roupas, lençóis, edredões (é assim que se escreve?), detergente próprio para a roupa, "canguru"(?), etc, etc...
Chegando ao dito estabelecimento, fomos observando tudo o que estava à disposição. Eu comecei a desconfiar que a máquina de etiquetagem dos fulanos só tinha 3 algarismos: 30, 70 e 105. Tudo custava 30, 70 ou 105 €, passe o exagero.
"Quanto custa isto?", perguntava eu.
"São 70€", respondia a solícita vendedora, quase uma voz robótica.
E continuamos a vasculhar.
Pedimos um catálogo. Como pode uma loja de coisas para bebés ter um catálogo com quase 200 páginas? Como é possível existir tamanha quantidade de produtos para essa faixa etária?
"Já comprou almofada? E roupinha do 1º dia? E para a maternidade, já tem roupinhas? E mala para levar para a maternidade? E isso e aquilo, já têm?"
Confesso que senti uma leve vontade de abater a moça; sempre que eu pensava ter posto no monte o último produto, lá vinha ela com uma nova pergunta.
"Então, e já tem a faixa pro pós-parto?", mas ela ainda nem teve a criança, catso!!! " Tem aqui a nossa linha de produtos para o banho, fraldas, toalhetes, chuchas, biberons, banheiras, termómetros, blá, blá, blá, yada, yada, yada, etc, etc "... deixei de ouvir, entrei em transe zen e comecei a imaginar um mundo soterrado em toalhas felpudas com ursinhos e girafas, os bebés a planarem sobre as nossas cabeças como as pombas de um jardim no verão, libertando o mesmo que as aves, na cabeça dos incautos transeuntes...
"Olha, gostas mais deste ou deste?" perguntou a minha mais-que-tudo, numa esperança vã de que eu desse a carta de alforria ao meu cromossoma X.
"Hum...", fazendo cara de pensador, "o que tu quiseres, amorzito".
À esta altura do campeonato já tinha deixado de imaginar a conta no final da aventura e tinha desistido de ir à FNAC, o meu único lugar de interesse no centro comercial.
"Já adquiriram o carrinho? E o ovo, a alcofa, a cadeirinha, ..."
A estimativa de gastos que tinha no início já havia sido pulverizada há muito e começava a ficar abatido.
Decidi abandonar, por instantes, a dupla de senhoras e fui dar uma volta pela loja. Entretive-me a ver a quantidade de coisas que existem para proteger a criança: protectores para tomadas, armários, frigorífico, sanita (!), se é para proteger tanto, mais valia não ter a miúda. Vasculhei, depois, outras secções: brinquedos, carrinhos, roupas para a grávida, lingerie para grávida, produtos de limpeza, e outras tantas coisas que ainda estou a tentar perceber para o que, em nome de Deus, servem.
Achei piada ao soutien de amamentação. Aquilo parecia a porta de um castelo medieval e quase podia ouvir o ranger do fecho e o barulho da abertura a bater, pum, libertando uma aréola rosada e... fiquei vermelho, por segundos.
"Anda cá", a doce voz do meu amor chamava, e lá fui eu, bem mandado, "olha essa roupinha, tão gira".
Pensei comigo mesmo: "se disseres "fofinha" és um homem morto".
"É gira é", e, de soslaio, espreitei o preço, "mas de repente não gostei da cor..."
Depois de escolher alguma "mudas" de roupa, fomos ver o "canguru".
"Isto é simples" disse a vendedora, "apertam esta patilha, depois tem este botão aqui, mais este fecho, dão a volta por este lado, reviram isto e depois apertam assim e (se tiverem sorte) já está!".
"E ponho o bebé onde?", chalaço.
Passadas duas horas, chegou o momento da verdade: o pagamento. As duas carregaram-me como um iaque tibetano e lá fomos nós para a caixa. Quase precisei de um GPS para me orientar.
Depositei tudo na superfície brilhante da mesa de pagamento e começaram os "bips". As senhoras da caixa, a vendedora e a minha grávida conversavam, alegremente, sobre o maravilhoso mundo da maternidade; eu suava.
Inúmeros "bips" depois, a sentença:
"São XXX,XX €", faxavor.".
"Ó mulher, acho que vai ser filha única a nossa bebé!"
"Porquê?"
"Acabaram de me cair os tintins e rolaram para baixo daquele armário..."

8 comentários:

Rain disse...

O que eu me ri com este texto! Muito bom! He he

Ainda por cima tive que acompanhar a minha mãe numa incursão a uma coisa do género para arranjar-vos uma prenda. Meu Deus, é realmente assustador!

MA-S disse...

Aaaaaaahhahahahahah
é tão bom fazê-los não é?? Depois é que são elas...:P
O que eu me ri com este texto!
Muito bom...

Catsone disse...

Vcs riem-se e eu choro... mas é por uma boa causa.

Carina disse...

loooooool texto muito bom!!

Já agora parabéns pelo bebé que vai usufruir desses artigos todos! =)

E pela quantidade de censura que aplicaste no preço final acho que vou começar a poupar já para ter uma rebento....daqui a.... 30 anos! xD


bjuu*

Sahaisis disse...

Vê as coisas pela positiva, pelo menos estás lá para usufruir, :)...não querendo ser chata pensa que uma boa parte dessa mariquice toda vai deixar de servir à catraia depois do primeiro mês de vida..e se me permites wtf é um ovo? carrinho eu tive, em regime de sharing com a minha irmã geminada, mas kanguru, ovo, que coisas obscenas são essas?
by the way, parabéns pela miúda :)e aproveita cada momento, porque uma coisa desse tipo é extraordinária...by the way também eu me passeei com o meu mais que tudo (?, sim parece que ele é mesmo mais que tudo) por esse antro de perdição, lol...por isso já sabes se viste uma lisboeta com ar de enjoada (mas NÃO grávida) com um gajo do porto todo descontraído era eu :P

forteifeio disse...

Quando começares a acordar à noite, ainda te vais rir mais

ahahah

mas é bom, fico contente, é lindo.

Compensa bem os esforços.

Catsone disse...

Ana, não aguardes 30 anos, não aguardes 10, deve ser algo extraordinário sentir uma vida crescer dentro de ti.
Sahaisis, o canguru é para levares a criança pendurada à tua frente, o ovo é uma espécie de nissam micra com alças onde carregas o miúdo.
Forte, brigadinho pelo apoio! Quando isso acontecer venho contar como foi.

Paula disse...

:)

ahahah e isto é só o começo :P

Quando ele estiver cá fora é que vai ser