22 maio 2009
Como num quadro de Dali
O esquizofrénico era o único que acreditava nas doenças todas da neurótica e apaixonara-se pela sua amiga que mais ninguém via. A distímica chateava o depressivo com seus inúmeros "ais", e este ameaçava suicidar-se caso aquela não o deixasse em paz. O impulsivo estimulava o depressivo à acção. O psicopata afiava a faca que tencionava emprestar ao depressivo. O antisocial tentava puxar o tapete ao psicopata. Na sala de espera, o ansioso colapsara por não aguentar o suspense da montra final do "preço certo". O maníaco verborreava coisas sem nexo ao autista. Noutro canto, o demenciado e o oligrofénico tentavam contar até 10 sem se perder. O bipolar chorava e ria a intervalos de 10 segundos. O obsessivo fechava e abria a porta vezes sem conta enquanto o paranóico desconfiava que este acto era para o apanhar quando tentasse sair do quarto. A anorética comia uma azeitona. A bulímica vomitava uma azeitona. O stressado saltava no sofá cada vez que o obsessivo batia com a porta. O maníaco ria desalmadamente. O toxicodependente curtia uma trip enquanto o alcoólico dormia aconchegado aos seus elefantes cor-de-rosa. O esquizofrénico estava feliz por não ser o único a ver os elefantes. O hiperactivo corria pelo tecto. O fóbico escondia-se atrás do sofá. O Munchausen sorria. O narcolépico dormia sobre a mesa do refeitório. O tarado estava de olho na neurótica. O psiquiatra, único verdadeiro louco aos olhos destes homens e mulheres, vagueava pelo corredor, introspectivo, procurando alguma ordem no caos, mantendo a sanidade mental presa por um fio, muito próximo de se juntar a eles.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
21 comentários:
ahahahah que lindo fairy tail!!!
sempre ouvi dizer que a malta que trabalha na saúde mental não bate bem...lol :p
gente animada...:)
Soberbo! Agora só falta, nos enredos nos nossos mundos neuronais, termos a capacidade improvável de, discernivelmente, encontrarmos o nosso papel na história... Hoje serei talvez o psicopata maníaco-depresssivo.
Deixa-me que te diga, GENIAL!! =D
Genial, mesmo!
Genial e hilariante... já agora.
*
Neste quadro só falta o Lobo Antunes a uivar! :)
Rocky, são malucos mas nem tanto!
Ginger, tks, ;)
fantástico :)
Genial e criativo como sempre! abraços,chica
Fantástico Cat! Xiça! Numa sala de espera destas não há sanidade mental que vingue (eu só de ler já tenho alguns, muitos, dos sintomas)
Beijo
Eu acho que tudo ficaria melhor se o bêbado acordasse, o alcoólico para ser mais preciso... não sei porque é que tudo ficaria melhor, mas sei que ficaria.
Magnífico. Realmente dá um quadro bonito.
Eu era da humilde opinião que o ambiente nos hospitais psiquiátricos e sanatórios ainda deixa os doentes mais perturbados do que já estão... Mas este quadro veio mudar completamente o meu ponto de vista...lol
o que faremos pela loucra.
Venha descobri..
Também estou participando
ola!
Venha conhecer qual foi a minha verdadeira loucura.
http://sandrarandrade7.blogspot.com/2011/02/coletiva-loucura.html
vou te esperar na interação de amigos.
PODEMOS COMETER AS MAIS DIVERSAS LOUCURAS...
Carinhosamente,
sandra
Parabéns! Adorei ler este quadro de Dali onde coexistem pessoas com as mais diversas doenças mentais, que dialogam, agem, sentem e se perdem num tempo sem tempo!!!
;)
Texto perfeito e muito bem estruturado, com um final surpreendente! Parabéns pela participação!
Grande abraço!
No fundo no fundo todos temos um pouco de loucos.... bj
Obrigado a todos.
Fabuloso o ritmo do texto e fabuloso o saltitar de personagem em personagem e a interligação entre cada um deles! Afinal, num mundo desfragmentado em que cada um assumiu um mundo seu, há sempre um fio de ligação entre cada um dos fragmentos. E se cada um vê um pouco do mundo do outro ao lado, então louco é quem não encontra um elo com o mundo de ninguém!
pá, vi a imagem aí do blog até me doeu a mim... coitado do puto.
Mas por vezes é assim, a malta sabe mais do que alguns médicos. e mesmo assim fode-se...
saudações!
Simplesmente show!abçs e paz.
Enviar um comentário