31 julho 2011

Pai sofre XXI: Na maternidade

Com a minha senhora internada, de recobro da cesariana, lá vai o papá para a maternidade.
Como a visita do pai decorre das 12:00 às 20:30, ficam mais de 8 horas para preencher. Não me interpretem mal, mas o meu pequeno "pilas", neste momento, só obedece a um plano: dorme/come/caga e não exactamente por essa ordem, sendo que a parte "dormir" é a que demora mais tempo. Dessa forma, há sempre "coisas" que vão chamando atenção.

No quarto da minha madame estão mais 3 bebés e, no meio do mesmo, incrustada na parede, jaz uma televisão. Como lá manda a puta da democracia, todos vemos o canal da maioria. Nos 2 primeiros dias a TV esteve na SIC, ou como costumo chamar "televisão doentia", e tive que levar com a Ana Marques e Cia ilimitada (Cláudio Ramos incluído!).
No entanto, hoje lá mudaram para o primeiro canal da RTP. Não é que eu estivesse a ligar muito para o que estava a dar na televisão, mas não pude deixar de ficar estúpido de facto com algumas "músicas" do Top +. Primeiro de tudo as famigeradas musiquinhas infantis, várias vezes comentadas neste blogue nos últimos 2 anos; depois uma tal de Rosinha que põem uma minhoca numa vara qualquer; por fim, e antes que eu perdesse os sentidos, um tal de Leandro com isto:



Parti-me a rir quase instantaneamente:
"Fuuoooda-se", pensei logo, "uma canção sobre a morte da mãe a passar numa maternidade? Isto só pode ser o cúmulo da ironia!!!"

O tempo assim até passa mais depressa e amanhã o meu menino vem para casa, finalmente!

29 julho 2011

Pai sofre XX: Sequelas

O meu miúdo já estava vestido e eu estava a apresentá-lo à mamã quando a obstetra sai-se com:
"Pronto, como foi cesariana, dentro de dois anos voltam pelo terceiro"
"Como?" digo eu espantado.
"Foi cesariana e..."
"Não é isso. Essa parte do "não sei quê do terceiro"

Vamos fazer uma analogia.
O "Tubarão" foi bom. O "Tubarão 2" também foi. Os outros "tubarões" eram escusados. Os dois primeiros "Back to the future" foram espectaculares, já o 3
º: nhec, foi bonzito, vá.
Ninguém disse que isto seria uma trilogia, ok! Eu não sou o George Lucas a tentar esticar ideias. Isto cá em casa não é Hollywood e a minha holy wood já não trabalha para estes resultados!
Citando o sábio povo: "um é bom, 2 é óptimo, 3 e as coisas come
çam a ficar apertadas".


28 julho 2011

Filho

Na minha prepotência dos 30 e tais, com a certeza de que tinha certeza de tudo, vieste tu, meu filho, mostrar-me que, afinal, ainda tenho muito, mesmo muito, o que aprender.
Tu que és tão pequenino e frágil, vieste mostrar-me o que enfim sou: mais pequenino do que tu.
Quem sabe tudo? Quem conhece todos os segredos do mundo? Não sou eu, ora bolas, é essa a verdade.
Tu que és puro e limpo, com esses olhos, que pouco vêem mas tanto mostram, abriste os meus e os lavaste em água salgada.
Mal te ouvi, ainda no ventre da tua mãe, vi logo as minhas imperfeições, e ao pegar em ti, pedaçinho de gente, vi o quanto eu também tenho de crescer.
Ah, pequeno, quanto tempo esperei por ti em ansiedade; quanta vontade tinha de te conhecer e ver, reflectido em ti, o fruto do amor destes teus pais apaixonados.
E assim, filho, este teu, pensava ele, sábio pai, viu-se num mundo novo; num mundo onde tu passas a ser rei depondo o velho sabichão: o que tinha a certeza de tudo ter certeza e, vê bem miúdo, que pensava que a felicidade e o amor tinham limites...

Sê bem-vindo que tenho muito a aprender contigo.


25 julho 2011

Os princípios


"No princípio criou Deus os céus e a terra" Gênesis 1

Deus estava presente naquele princípio, mas um dia criou os portugueses. Esses criaram outros princípios:
"Eu tive um princípio de AVC..."
"O meu pai tem princípio de diabetes."
"Estou com tosse, deve ser princípio de pneumonia."
"Há alguns tempos tive um princípio de depressão."
E etc, etc.
Quando falam isso digo logo que não vale a pena tratamento porque só conseguimos tratar doenças estabelecidas.

Agora percebo porque deveria conhecer melhor o Harrison...



23 julho 2011

Sangue frio

Há quem diga que um profissional de saúde deve ter sangue frio. Sangue frio para aguentar as agruras do dia-a-dia, as misérias, as doenças, a violência das imagens, do sangue e das vísceras expostas.
Eu acho que não. Na minha mui humilde opinião, um profissional de saúde deve ter sangue frio para aguentar firme e hirto quando ouve, a meio de um discurso de queixas, coisas como: "constipação nos ossos", "fumador invertebrado", "estreptocópus", "quero um electrocardiograma à coluna", entre muitas outras coisas bonitas.
Por vezes não é fácil e confesso que já me parti a rir duma tirada dessas
... um gajo não é de ferro, pá!!!


21 julho 2011

Pai sofre XIX: A gravidez ou o sertão sexual

Há alguns dias, durante um zapping, parei no canal Hollywood e fiquei a ver o filme “Um azar do caraças”. A história girava em torno de uma casal de pessoas completamente diferentes que, podres de bêbados, têm uma noite daquelas. Passado um tempo descobrem que a moça engravidou, e patati, patatá, pardais ao ninho.
O que me faz escrever este texto é o facto de existir uma cena nesse filme que tentava retractar o acto sexual durante a gravidez. Nessa cena, o futu
ro pai não conseguia continuar o “bem bom” porque, apesar da moça ser bem jeitosa e estar super “horny”, não deixava de pensar que podia acertar na testa ou outras partes do bebé e que o seu bacamarte não deveria ser a primeira imagem que o filho veria (aliás, um pensamento muitíssimo sensato!).

Ao ver aquela cena não pude deixar de lhe achar piada, mas ao mesmo tempo pensei: “pelo menos estás a tentar!”

Na gravidez “o amor” é um bicho estranho, realmente. Para quem não tem fetiche por grávidas é algo esquisito. Dependendo da idade gestacional é difí
cil e quase acrobático. Um fulano tem de ter destreza física e capacidade mental para a empreitada.
Isso se houver alguma hipótese de existir qualquer coisa desse género e é esse o tema deste texto: a seca.

Na primeira viagem pelas terras dos “9 meses” tinha um amigo que, no gozo, elogiava a massa muscular do meu braço direito. Eu perguntava-lhe “êpá, é assim tão evidente?”, ao que me respondia: “já fui pai duas vezes, não te esqueças…”
Não serão bem 9 meses de seca, há que descontar as seman
as da ignorância e o tempo até à primeira ecografia: depois de ser ver aquela coisinha no ecrã um fulano olha pró material das moças de outra forma! É todo um mundo que se fecha…

E é justamente nessa altura do querer e não poder que vem à baila o tão famoso ditado do “proibido é mais apetecível” e essas merdas. Um gajo, que normalmente já quer, quer ainda mais! Parece sacanagem, querer sacanagem e não poder.
“Pode sim, caraças. Eu sei que não há problema! Vai, foca-te” e até se hasteia uma bandeira aqui, outra ali, mas não há terra para se encravar (ou até há mas está em pousio).

O tempo vai passando, a sede aumentando...
Começa-se a achar interessante toda e qualquer tipo de pele exposta. Chega-se ao verão e as saias atormentam. Vai-se à praia e é um martírio. Vê-se o fashion TV e o preço certo com certa frequência e não se sabe bem porquê. Ai, ensandece-se qualquer coisita...
Começa a ser constrangedora a “insustentável leveza do ser”.

Agora, mesmo, mesmo no finalzito, com o filhote quase a rebentar, depois de todo o sofrimento e de auto-contemplação e satisfação, da subida da direita ao poder, ouço uma frase aterradora: “já se sabe como é: no primeiro mês não há nada!”


É paradoxal um acto sexual vir a dificultar (ou impedir) a realização de outros-que-tais subsequentes. Talvez possa ser chamado de “sexo empata fodas”.




18 julho 2011

Maus caminhos

Não sei porquê, mas a maioria dos blogs que visito frequentemente tem aquele aviso do blogger sobre conteúdos impróprios.
Parece que os mesmos surgem após alguém, mais susceptível, queixar-se ao todo poderoso virtual sobre os malandrecos autores das respectivas páginas.
Leva-me a pensar que este mundo está inundado de gente hipócrita e "queixinhas"!
Deixai-os publicitar ideias, caraças! Deixai-os mostrar pachachas, piças e o acto do amor! Deixa fluir textos ordinários, obscenos e plenos de caralhadas lusitanas!
Cambada de falsos beatos e puritanos!

Aos delatorezitos que por aí andam, virgens de ouvidos e olhos, levai ( e deixo vossa imaginação fluir...)



PS: não se espantem se amanhã também tiver aquela tartufa mensagem antes de adentrarem o meu estaminé.

17 julho 2011

A confissão

Para o desafio "Segredo" da Fábrica de Letras:


A confissão

Maria sentiu o telemóvel a vibrar no bolso apertado da calça de ganga. Estava no silêncio, não queria chamar a atenção a meio da aula. Retirou com grande discrição o aparelho e não conteve um sorriso assustado ao ler o que continha a missiva electrónica:
“Maria, estou há algum tempo para te dizer algo que só pode ser dito pessoalmente. Um segredo que não posso mais esconder. Se puderes, vem ter comigo ao nosso lugar depois das aulas. Bj. Marco”.

Marco era o melhor amigo de Maria. Era “apenas” o melhor amigo porque Maria ainda não tinha tido coragem de lhe dizer que o queria de outra maneira. Duma maneira como nunca quis ninguém. Queria-o muito para além da amizade, muito para além do abraço e do beijo fraterno na face.

Enquanto caminhava apressada para casa, conjecturou inúmeros cenários para a tão esperada revelação. “Será que esse segredo é o que eu penso?” , pensava. Imaginou o amigo de joelhos a confessar o quão difícil foi criar coragem para lhe dizer que a amava e a dificuldade de esconder tal sentimento. Imaginava “Nothingman” a tocar ao fundo e o sol a esconder-se por trás dos montes que se vêem de onde se costumam encontrar. De tanto antecipar a cena nem deu por ter chegado à sua casa.

Foi ter com a sua irmã gémea, Laura. Mostrou-lhe a mensagem como que desvendando o terceiro segredo de Fátima. Laura ficou boquiaberta, mirou Maria nos olhos e abraçou-a. Ao saltos no meio do quarto pareciam duas tontas do tempo do liceu quando bastava um olhar do menino bonito da turma para perderem as estribeiras.
Laura dizia repetidamente “o que é que eu te disse? Não te tinha dito? Eu sabia, eu sabia!”. Riram-se desalmadamente, conversaram em algazarra, de tal forma que toda aquela maluqueira chamou a atenção dos seus pais.

“O que combinaste com ele”, perguntou Laura.
“Vamos encontrar-nos na encosta”.
“Oh, man”, suspirou, “vai ser uma cena digna de um bom filme meloso”.
“Estás é com inveja” e mostrou-lhe a língua.
“Maria, quem não estaria? O homem é tão jeitoso!”.
“O que visto para esta ocasião?”.
“Vais sexy e irresistível, mana!” disse Laura enquanto corriam para o roupeiro do quarto de Maria.
Depois de uma curta procura, encontraram um vestido que concordaram adequar-se à situação.
Laura penteou a irmã, aplicou umas mistelas coloridas na sua face e ajudou-a a maquilhar-se.
Depois de algum tempo Maria pousou para si própria à frente do espelho: estava linda… ainda mais.

Como combinado, Maria foi ter com Marco à encosta que fizeram seu ponto de encontro. Naquele lugar já lhes tinham corrido litros de saliva em longas conversas e cantigas de escárnio. Foram cúmplices de vários crimes de difamação e, s
e aquele lugar pudesse falar, teriam muito com que se preocupar.
Marco já lá estava. Visivelmente nervoso, olhou para ela e soltou um “uau” prolongado e com vários pontos de exclamação.
Ela sorriu… e corou.

Depois de um curto período para se acomodarem nos devidos lugares, Marco começou a conversa libertando uma voz estranha e tremida:
“Maria, já deves imaginar porque te chamei cá”.
“Imagino” respondeu Maria prontamente.
“Não sei por onde começar. Juro não ter sido a minha intenção, mas aconteceu sem me aperceber e agora estou assim: numa encruzilhada. Sabes que eu gosto muito de ti, que és a minha melhor amiga e que não podia te esconder nada”.
“Sim, Marco. Eu compreendo…” dizia sôfrega.
“Deixa-me falar ou passa-me a coragem. Maria, vou contar-te meu segredo, vou confessar-me…”
“Diz-me, Marco”.
“Maria, estou apaixonado!”
E os olhos da moça humedeceram-se…

Maria chegou à casa lívida e visivelmente perturbada. A irmã, que a esperava “em pulgas”, ficou preocupada com o estado da moça.
“Maria, o que se passa? Porquê estás assim? Diz-me, mana, diz-me!”
Maria então chorou. Deu um abraço tão apertado à Laura que conseguia sentir o seu coração assustado.
“Sabes que eu amo-te profundamente, Laura” e, olhando-a profundamente nos olhos, completou “e o que se passou é que o Marco também…”


06 julho 2011

Férias sem net


Alguns dias passados em Santa Cruz (Torres Vedras) sem net, apenas o mar, o vento, algum sol e (o mais importante) a família, foram responsáveis pelo entupimento da minha conta de mail, pelo vazio criativo neste espaço e pela recarga das minhas baterias (que já estão a ficar viciadas e cada vez aguentam menos...)


E segunda-feira é logo ali (suspiro)...